domingo, julho 23, 2006

Do que vai e do que volta



Quando a gente vai tudo é urgência
É valentia, é questão de desbravar
A gente chega,
Pensa que é um só
Pensa que é coragem
Quando a gente vai nada dói
Como se houvesse um quê de pedra
Lá onde mora o coração
Quando a gente vai,
nem existe memória
Fotografia ou recordação
Quando a gente vai
Não existe lamento
Tampouco sentimento
Quando a gente vai
O que importa mesmo é ir
Pena é que quando se foi
Já não se é o mesmo
Lá ficou algo de si
E que, pra surpresa nossa, não volta
Aqui,
Uma versão apenas
Quando a gente volta
A vida é outra
Digo mesmo que o rio é outro
Quando a gente volta
Sabe o que perdeu
Tentando outra coisa encontrar
Quando a gente volta
Não é a casa que se torna
É a outro lugar
Que a gente não sabe situar
Nem sabe mesmo aonde ficou
Quando a gente volta
Tudo é diferente
E a sensação que se tem
É de que nunca se foi
E que dali
Nunca desejamos sair
Quando se volta
Já não se volta o mesmo
É outro
E o lugar soa apenas
Como um estranho familiar




*Ilustração: Quadro "Garotas na ponte", de Edvard Munch *