sexta-feira, janeiro 16, 2009

Da esperança



Oh amor grande que tenho!
Que a vida jamais apague
Que a distância jamais separe
Que a paixão nunca se acabe
Que na dor nunca se esbarre
Que a rotina nunca repare
A felicidade que sinto
A alegria que Deus me prometeu
Somente em saber-me sua
Somente ao saber-te meu

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Sobre um bosque, uma casa e uma janela


Pegou a mão do rapaz. Não hesitou. Certamente queria mostrar-lhe as paisagens,
Uns verdes, uns azuis, que era para facilitar o exercício da memória. Sabia que necessitava de abrigo e viu naquela mão interesse em ser guiada, por isso, não se fez de rogada, foi mostrar ao rapaz umas cores outras que ele não conhecia, mas que ela já trazia em muitas aquarelas.

Inicialmente pegou aquela mão pequena e foram juntos a caminhar por um belo bosque aonde se descortinava um certo lilás que nunca ousara ser tão vívido, tão real. O verde do qual sempre gostou agora parece mais verde ou mesmo tem um jeito de questionador. Isso, achava as árvores mais frondosas e de um verde mais questionador, como se cada folha reivindicasse um lugar de prestígio no alto daquela copa tão interessante.

O bosque era imensidão, ele seguia sem parecer cansado, com os olhos abertos e a mão ainda desejosa de ser guiada. O tempo era bom, mas aqui e ali podiam ser avistadas umas nuvens, temporárias. Ela trazia no peito um desejo imenso de mostrar aquelas cores todas que pareciam habitar apenas naquele bosque esquecido.

E seguiam, firmes e fortes, uma à frente do outro, a lhe trilhar os caminhos, a lhe livrar de certas pedras, a oferecer-lhe um ou dois fôlegos a mais, que era para a aventura seguir desempedida. Oxigênio não era matéria escassa e determinação sempre foi o forte daquela mão que guiava a outra mão que seguia apaixonadamente, afoita e curiosa de mais descobrir.

- Aqui está a mais bela árvore já vista no bosque. Disse a moça, em tom de maravilhamento , como se esperasse o mesmo encanto de quem a seguia.

- Mas é uma bela árvore, mesmo, consigo distinguir nesta tantas cores. Amarelo, rosa, violeta e azul, e olha que não procurei mais!

- Ah, mas há que contemplar, há que ver quão bela é essa árvore. Há tantas cores quantas possíveis na imaginação divina; há cores sequer conhecidas, há cores inéditas e m meio a tantas cores sortidas. Há cores as quais você nem eu sequer vimos antes.

A moça seguiu e a mesma mão fez questão de guiar. Ao longe das montanhas que se faziam douradas graças ao ofício do sol, puderam avistar uma casa, não velha, mas envelhecida. As portas eram de madeira branca que já vinha carcomida por bichos habitantes das montanhas ou mesmo por causa da inevitável passagem dos anos.

Dobradiças douradas auxiliavam as portas no penoso trabalho de abrir e fechar, assim como os velhos móveis embutidos davam alimento ao exército de cupins famintos que ali buscavam sustentação. Ao entorno da casa podia-se ver um belo lago, uma piscina coberta de folhas secas e saudosa de contato humano.

- Venha, esta é a casa da qual tanto lhe falei. Disse a moça, pondo umas asas nos pés como se
voar pudesse, esquecendo da lentidão da mão que lhe seguia.

- Mas, ali em cima?

- Sim, lá em cima é aonde vamos, ou estás com medo?

- Ora, medo? Mas claro que não, é que algo pode acontecer e somos dois contra essa imensidão de bosque.

- A casa vale a aventura, verás. Faz tempo que lá não subo, e , aproveitando o ensejo da sua visita, vou lá subir e rever tudo aquilo que guardei tão bem que até esqueci.

E foram. Seguiram em disparada com algumas gotas de suor nas faces e um desejo louco de a casa alcançar. Se munidos estivessem de câmeras fotográficas, fariam muitos registros e muitas poses. Não as tinham, coube a memória o registro fidedigno do que encontrasse ali.

As dobradiças das antigas portas foram responsáveis pelos primeiros ruídos que escutaram ao adentrar na envelhecida casa. Os cômodos eram espaçosos, como se guardassem muito lugar para todos os tipos de mobília que a imaginação do mais criativo arquiteto disponibilizasse.

Havia um jardim interno com a presença de algumas plantas que desistiram de ser verdes por falta de água. No entanto, podia-se ainda enxergar uma velha orquídea branca, como se resistisse à falta de alimento, insistindo em ser azul.

Os quartos eram muito grandes, tão grandes que a moça não conseguia achar-se; era pequena demais quando da última incursão a tal casa, não se lembrava dos tons, nem dos ruídos, muito menos da metragem de cada acomodação, isto seria esforço demasiado para uma memória já ocupada por outros serviços.

Deixaram-se estar num dos cômodos. Talvez este fosse o quarto principal daquela casa, não se sabe ao certo, mas , de acordo com a comparação que faziam entre os outros, supunham que aquele deveria ser habitado por gente muito especial, reis ou rainhas, certamente seria um aposento real, pensaram.

Neste belo quarto puderam enxergar uma pequena janela, um tanto empoeirada, mas que nem por isso furtava-se ao velho ofício de emoldurar as paisagens externas. Era o bosque, o mesmo bosque de tantas cores que podia ser visto, em sua imensidão, através daquele pequenino pedaço de vidro transparente.

- Isto tudo é tão grande e imenso que eu jamais poderia me lembrar, e agora que aqui estamos, não custa nada darmos uma olhada.

- Com certeza. É mágico conceber que, num lugar tão imenso esconda-se algo tão delicado e cheio de alma.

A moça não entendeu o que o rapaz quis dizer. Considerou que este fosse um exagero de seu parceiro de aventuras, imaginou ainda ser a frase uma espécie de efeito do grande maravilhamento diante da grandiosidade da casa, do bosque colorido.
Sem entender muito bem o que ouvia daquele rapaz que guiava, resolveu abrir mais os pequeninos olhos e dar um pouco de descanso ao cérebro e às memórias. Deixou-se então ficar ali, sem se preocupar com a dança dos ponteiros no seu relógio, sem se importar com o disse-me-disse alheio.


E o que posso lhes contar disso é que ficaram os dois a olhar através daquela pequena janela o mundo ao seu redor, o bosque e as cores que iam vendo se somarem a toda espécie de elemento presente na natureza.