quinta-feira, agosto 12, 2010

O que posso dizer sobre Os Espiões?



O bom leitor, o leitor ocasional, o chamado "traça de livro", o leitor mediano e até o leitor autor , seja quem for, não conseguirá se livrar da obssessão por Os Espiões (Alfaguara, 2009).

Escrito por Luiz Fernando Veríssimo e inspirado em tantas histórias de detetive, em romances policiais, em Os Espiões somos guiados pelo fio que leva um editor entediado com a vida , com o casamento e com o trabalho a uma história privada pintada com tons de realismo macabro e contada como se fosse um crime passional que chega as suas mãos por meio de sucessivos envelopes brancos de autoria de uma tal de Ariadne.


Tal como todo bom romance policial, nós, os leitores mais fiéis, somos levados a conhecer o universo de Agomar Trapiche, do professor de cursinho pré-vestibular Dubin, da bela Bela, sua secretária. Também conhecemos o delicioso e rabugento professor Fortuna, para quem a alfabetização de mulheres era vista como um atentado à boa civilização.

Em
Os Espiões, o leitor menos fiel também tem acesso ao mundo de Veríssimo, um mundo cheio de humor, de ironia e sutis críticas sobre a hipocrisia e a mediocridade humanas. Não tenho aqui a intenção, também não possuo a pretensão de fazer um ensaio sobre Os Espiões. O motivo pelo qual não o farei é que me considero uma leitora fiel de Veríssimo.

Conheci sua obra porque alguém me dissera que era um dos melhores escritores brasileiros quando se pensa em escrita de humor, em um tipo de humor inteligência que é capaz de ultrapassar o próprio gênero para se alinhar ao que se tem de melhor na literatura de um país. Eu, humorista nata, achei que seria interessante conhecer a obra de Veríssimo, nunca li a de seu pai, mas , julgando pela herança genética e pelo que muitos me contavam, Veríssimo, o filho, tinha que ser genial. E é.


Sobre o enredo? Hum, muito pouco posso revelar, mas vou dizer que o livro prende qualquer que seja a categoria do leitor de modo que não existem mais "hora do almoço" "hora de sair", "hora de dormir". Veríssimo nos conduz, entrelaçando com talento os fios que Ariadne vai revelando, capítulo por capítulo, envelope branco por envelope branco, deixando todo aquele que se encontra com o livro em mãos tonto como se estivesse em um labirinto.

A respeito das alusões à De Chirico, à Ariadne de Teseu? Pouco posso dizer, somente me sinto autorizada a falar que o autor tem sucesso ao nos guiar por esse labirinto que a história de Ariadne nos apresenta. E o melhor? Não nos sentimos angustiados, no máximo, eufóricos para chegarmos ao derradeiro capítulo.

E quando lá chegamos? Que vontade de voltar...mas já é tarde, já fomos enfeitiçados e pena que o livro um dia acaba...mas não quer dizer que não poderemos retornar ao labirinto, nem que seja para rir com as opiniões e palestras do Professor Fortuna.


Como isto aqui não é sobre o autor e sim sobre a obra, pensei o que escrever sobre o recente livro do escritor gaucho que não revelasse a quem quer que esteja lendo isso o final da trama.

Acredito mesmo que até se me contentasse em contar como o fio de Ariadne é trançado e retrançado nos quinze capítulos em que o livro se desenrola, mesmo sem revelar o final da narrativa, estaria prestando um desesrviço aos leitores, fiéis e infiéis, novos ou antigos de Veríssimo.


Farei o seguinte: não contarei nada. Espero que isso atice a curiosidade de quem gosta de tudo que Veríssimo escreve, ou mesmo chame atenção daquele que nunca leu nenhuma linha vinda lá das bandas de Porto Alegre.
Não contarei sobre a Ariadne que costumava escrever sem vírgulas, não falarei sobre a origem do apelido da figura soturna conhecida como Rico. Não. Não direi uma palavra sequer sobre o que significava, em Frondosa, dizer que iria "visitar o túmulo de mamãe".


Meu silêncio receberá aquele que me perguntar como o editor conhece Ariadne, o que de fato se poderia entender como a "Operação Teseu", ou mesmo porque diabos o Mandioca gostava de "entregar" os jogos que disputava pelo time de futsal da cidade.

Não adianta insistir, porque também nada direi sobre Dona Loló, Franco e Fabrízio Martelli.
Deixarei tudo à cargo da curiosidade de quem possivelmente me lê agora. Se alguém , ao ler isto aqui, se interessar, descubra por si só o trançado feito pela tal Ariadne, trançado escrito e amarrado com "a pena da ironia e da galhofa", expressão que, se não pode se restringir à Machado de Assis, não poderia deixar de ser associada à Veríssimo.

Exagero? Coisa de leitora apaixonada e fiel?
Sobre isto nada. Nenhuma palavra sequer. Descubram por si sós, eu é que não vou estragar uma história de detetive.Itálico