segunda-feira, dezembro 17, 2007

Jabor contra Coelho






Eu que não li Paulo Coelho me espanto com o número de pessoas que habita a comunidade no orkut chamada "Paulo Coelho não é Literatura". São mais de 10 mil pessoas exigentes, talvez não todos críticos de literatura, muitos devem ser agitadores, revoltados, rebeldes sem causa que nem eu, a bradarem seu medo de que um dia o célebre autor vire leitura obrigatória em colégios e faculdades.


Não posso negar, faço parte desse mundo de gente que assertivamente diz que Paulo Coelho não é literatura. Vocês podem dizer, qual é a sua base para dizer que Coelho não é literatura?Não mentirei, não li seus clássicos. Tampouco li Dostoiévsky, não, sequer folhei o Código Da Vinci. Tem muita coisa que não li e mesmo assim critico, mas com Paulo Coelho é diferente, é um prazer maior, não sei por qual motivo, simplesmente gosto de criticá-lo. Assim mesmo.


Eu digo que Paulo Coelho não é literatura, simplesmente por convicção de que, não sendo ignorante quando se trata de letras e já tendo lido Machado de Assis, Luiz Fernando Veríssimo e Goethe, eu posso, por exclusão, dizer que Paulo Coelho , e o pouco que sei dele, não é literatura. Digo mesmo influenciada pelo grupo de rebeldes críticos, não, não é literatura mesmo sem eu ter lido uma linha.


Acho que a boa literatura é aquela que nos leva para outros mundos, para além das quatro paredes nas quais nos encerramos com o livro na mão. A boa literatura, no entanto, entendo não ser apenas isso, posto que o que Coelho faz, segundo quem o lê, é levar tanta gente a tantos lugares exóticos, exotéricos.


A boa literatura exige mais do que um passaporte imaginário, ela exige capacidade crítica de quem lê, para que, tomando as letras que absorve como metáfora, possa fazer da palavra lida, palavra escrita por ele mesmo. O que quero dizer é que, na minha opinião, para ser um bom livro, o livro precisa nos ler e nos pegar pela mão.


Atualmente estou lendo Jabor, "Amor é prosa, sexo é poesia", e acredito que, nada melhor do que um livro de crônicas bem escritas para nos fazer desabrochar a capacidade de pensar. Jabor nesse livro fala sobre tudo um pouco: relacionamento homens e mulheres, contemporaneidade, crônicas sobre o futuro do Brasil...enfim, são temas variados que fazem o bom leitor indagar, questionar, e sobretudo, além de pensar, colocar algo em movimento sob o impacto da palavra lida.


Desde as relações frouxas da era pós-moderna até a bunda de Juliana Paes, o Jabor fala de coisas com que todo mundo se depara até mesmo na banca de jornal da esquina, com isso, não necessariamente a leitura de Jabor nos leva ao caminho de Santiago de Compostela ou a tantos outros lugares.


Não, Jabor não nos leva além da banca de jornais, muitas vezes, e isso é o crédito que pode ser dado a ele: mesmo aqui no nosso país de miseráveis a boa literatura se apresenta como antídoto contra a alienação, mesmo que não nos leve a outros continentes nem seja best-seller.


Tudo bem, então sejamos imparciais agora, logicamente estamos falando de estilos diferentes, Coelho escreve seus estórias em prosa, não sei se todas, acredito que já deve ter se aventurado por outros estilos, mas não posso afirmar, posto que, como já disse, sou uma ignorante quando se trata de Paulo Coelho.


O que quero apontar aqui é que, muitas vezes, um livro de crônicas como o de Jabor é capaz de fazer as palavras saltarem do papel escrito pro papel em branco, e isto, acredito, é a maior vantagem da leitura: tornar o leitor um autor.


Dito isto, agora me vem uma preocupação: Se esta é a maior vantagem da literatura, quem será que fez Paulo Coelho ser Paulo Coelho?