sábado, dezembro 06, 2008

Versinhos para a amada levar para a terra da garoa


É...


Por tantas a gente já passou

De conversa em conversa

tanto a gente já analisou

Já chorei já sorri

já vi chorar já vi sorrir

agora vou ver partir

é...

Por muitas a gente passou

de desventura em desventura

sempre uma mão estendida à outra

em meio a tanta solidão

o encontro da amizade verdadeira pelo computador

é....

por muitas mesmo a gente já passou

amiga o caminho eu sei não foi fácil não

foi muito sofrimento muita angústia

e enfim o pranto passou

vai lá viver o seu amor

que o que é seu jamais o tempo e a distância levou

vai lá viver a paz

que daqui eu fico na torcida e na espera de um alô

é...

tantas a gente passou

e quem desacreditou no amor

graças a Deus não vingou

para ver o dia em que a amada partiu

em busca de seus sonhos
com a benção de sua fé

Foram muitas que a gente passou

e aqui desse lado fica alguém

que ri com você

que chora com você

e desse lado fica alguém a sorrir

porque aprendeu que amizade não precisa ser constante

nem de ver a todo instante

para ficar feliz ao ver a amada ir

segunda-feira, dezembro 01, 2008

O caminho para a distância: Vinícius de Moraes, velho e moço ou moço e velho?


"Este livro é o meu primeiro livro. Desnecessário dizer aqui o que ele significa para mim como coisa minha - creio mesmo que um prefácio não o comportaria normalmente."


Vinícius de Moraes



E assim nos é apresentado o poetinha, nada que lembre o fanfarrão, bonachão inspirador de "Samba para Vinícius". Em O caminho para a distância (2008, Companhia das Letras), conhecemos o poeta jovem, aprendiz, com apenas dezenove anos parecendo suportar todas as dores do mundo.


Falando de exoterismo e misticismo, muito dos poemas reunidos neste livro sequer lembram os poemas da chamada "fase madura" deste boêmio encantador. Publicado originalmente pela editora Schmidt, em 1933, o livro composto de quarenta poemas reaparece agora com a iniciativa da editora Companhia das Letras em reunir a antologoia poética de Vinícius.

Qual foi meu espanto ao me deparar com os poemas claros, simples, beirando o sagrado, os poemas de um jovem que em nada me parecia Vinícius de Moraes não sei dizer. Confesso que da sua obra mais me interessavam os sonetos que somente ele pôde idealizar, porque somente ele tinha na alma um quê de romantismo que pode rimar com soneto.


Sim, para muitos e inclusive para mim, soneto só rima com amor e este, por sua vez, só rima com Vinícius. Porém, em O caminho para a distância, nos deparamos com o ambiente que circundava o poeta desde muito cedo; as paisagens cariocas, as mulheres, o sagrado, o místico e principalmente o amor, ainda idealizado, ainda não transbordando luxúria, tal como conhecidos versinhos que viraram inspiração para o movimento Bossa Nova dos anos 50 e 60 do século passado.


Parece então que neste livro encontramos um poeta aprendendo a viver, mas que nem por isso de versos menores; Se em algumas temáticas conhecemos um novo Vinícius, mais jovem, não podemos deixar de reconher traços muito marcantes do poeta.

Por exemplo, no prólogo de "O caminho para a distância" , o poetinha faz uma advertência: Comenta que talvez alguns versos não estejam muito apurados, porém, não pensava em lapidá-los, em transformá-los em algo melhor, passado pelo crivo da borracha e da consciência. Não, Vinícius o quis assim e assim os publicou.

Com a pena da juventude pôde falar dela como se já não a vivesse, assim em " Vinte anos":


" A minha juventude

E a noite passada em claro chorando Jean Valjean que Victor Hugo matara…

Como vai longe tudo!Pesa-me como uma sufocação meus próximos vinte anos

E esta experiência das coisas que aumenta a cada dia.

Medo de ser jovem agora e ser ridículo

Medo da morte futura que a minha juventude desprezava

Medo de tudo, medo de mim próprio

Do tédio das vigílias e do tédio dos dias…

Virá para mim uma velhice como vem para os outros

Que me dissecará na experiência?"


Um jovem-velho que, se conhecesse seu destino, talvez não temesse tanto assim a velhice e a si mesmo. Era assim o poetinha aos dezenove anos. Tal como todos nós aos dezenove, temia o futuro com a mesma intensidade que o desejava vê-lo realizado, cumprido, feito e terminado. Aos dezenove o poetinha camarada parecia ser mais velho e, quando velho, parecia nunca ter abandonado a mocidade.

Sempre cercado de amigos e mulheres jovens, sua vida sempre foi uma festa, uma roda de samba. E nada disso lembra o poeta um tanto preocupado, mas sempre brilhante, de O caminho para a distância.


Em "Velhice", mais uma vez o tema da finitudade da vida, o poeta fala de como se imagina quando a idade chegar:


" Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente

Olhando as coisas através de uma filosofia sensata

E lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade não permite."


E quem o conhece sabe que essa época nunca chegou: morreu como viveu a vida toda: vivendo intensamente, compondo, escrevendo, e, mais do que tudo, amando: amando suas mulheres que tantas vezes colocou em sonetos, amando seus amigos os quais dizia não fazê-los, mas sim, reconhecê-los, amando sua fé e sua crença em algo eterno e divino.


Assim era Vinícius, e viveu a velhice como viveu a mocidade. Não um velho que se tornou sensato porque os fios grisalhos pousaram em seus cabelos e porque as rugas anunciando a idade avançada fizeram morada em sua face. Vinícius foi ele mesmo imensidão, devoramento, Bossa Nova, samba e muito amor, e nada que pareça sensato pode ser chamado de Vinícius. Porque o seu tempo era quando e a vida, não gosta de esperar!



"Samba para Vinícius"

(Chico Buarque/ Toquinho)


Poeta

Meu poeta camarada

Poeta da pesada

Do pagode e do perdão

Perdoa essa canção improvisada

Em tua inspiração

De todo o coração

Da moça e do violão

Do fundo

Poeta Poetinha vagabundo

Quem dera todo mundo

Fosse assim feito você

Que a vida não gosta de esperar

A vida é pra valer

A vida é pra levar

Vinícius, velho, saravá