segunda-feira, novembro 22, 2010

O estranho caso das toupeiras: identificação ou ignorância?



Machado de Assis já a definiu como um certo movimento de canto da boca, utilizado por algum cínico. Em geral, nós utilizamos a ironia como uma forma quase bem humorada para demonstrarmos nossas reais opiniões diante de um determinado objeto/pessoa/evento. A ironia, por si só, revela um sujeito que lança mão de linguagem oposta ao que realmente gostaria de dizer. Exemplo: "Mas está tão boa esta peça de teatro!". Ao analisar esta simples frase, podemos observar que a frase, por seu tom, exageradamente positivo quando pronunciada, revela, na verdade, a oposição com a experiência de fato vivenciada, a qual seria : "Não estou suportanto esta peça de teatro".


Muitas vezes não estamos atentos a ela, mas ironia está nas esquinas, nas margens, à espera de alguém que tenha coragem o suficiente para utilizá-la. A ironia, se uma pessoa fosse, seria elegante, porém de uma elegância nada óbvia, seria bela, mas não daquelas belezas plastificadas à moda Hollywoodiana, mas uma beleza reservada, bela, quase feia, mas, que ao de perto, poderíamos constatar todo seu esplendor.


Muitas vezes, neste mesmo blog, procuro me utilizar deste recurso estilístico para enfatizar opiniões que tenho a respeito de um determinado evento/objeto/pessoa. Como a Psicanálise bem nos explica, há desejos que não nos convém realizar, o mesmo podemos dizer de ações. Há ações que, se realizadas, provocariam consequencias desagradáveis.


Foi para criticar, sublimar uma situação difícil que escrevi "A perversão e o reino das toupeiras". Um texto inocente, banhado pela saliva da ironia, esta que, marginal que é, logo viu em mim um palco para se exibir. Poderia eu dizer que a ironia me escolheu e foi assim que pensei em sujeitos rasteiros que têm entre seus passatempos se utilizar do mérito alheio visando objetivos individuais. Em suma, as toupeiras , mesmo não enxergando muito bem, não deixam de se aproveitar das qualidades alheias.


O interessante é que, estava falando de pessoas em especial nas quais noto estas características tão "touperísticas"e que, ao fazer uso da ironia, não me é necessário aqui citar nomes, idades, profissões e ameaças, agressões verbais. O que me interessou foi usar , de fato, a ironia, para falar de algo em que acredito. Em poucas palavras: não preciso agredir ninguém, magoar ninguém, somente usar ironia e ter criatividade para imaginar um animal, por suas características particulares, semelhante a este tipo de pessoa a qual, de fato, eu gostaria de me referir. Simples assim, todos nós podemos fazer isso, e fazemos, vez por outra.

Engraçado foi que , neste mês de novembro, recebi dois comentários inesperados a respeito desse texto. Um deles , vindo provavelmente de uma toupeira, disse identificar-se. Em suas próprias palavras:"interessante , de repente me identifiquei": Toupeiras do mundo todo, uni-vos, foi isso que imaginei. Certamente meu texto atingiu esta pessoa em cheio e fê-la ver que, de fato, age e se comporta como uma toupeira, tal como a descrevi. A esta desejo que o texto sirva como aprendizado, que deixe de ser toupeira, uma vez reconhecendo-se nesta, mas, acho difícil, neste caso.


O outro comentário sobre o texto das toupeiras, recebi hoje. Alguém certamente também tocado pelo nobre caráter da toupeira aqui relacionado, resolveu romper com o silêncio, escrevendo-me palavras de baixo calão, advertendo-me, inclusive sobre o absurdo de minhas palavras diante de um mundo tão devastado, diante de tantos apelos que recebemos diariramente sobre atitudes ecologicamente corretas.


Esta pessoa considero, sem meias palavras ou uso da ironia, um imbecil ecologicamente correto. É isto. A pessoa, além de não entender o uso da ironia presente no texto, ainda me criticou, ferrenhamente, sobre o absurdo em dizer que as toupeiras deveriam estar apenas em livros de fotos, como animais extintos.


Certamente, o(a) imbecil ecologicamente correto acolhe animaizinhos em situação de risco, adota papagaios mancos e toupeiras manetas. Deve ser daqueles que usa ecobags mas não sabem a diferenciação entre ficção e realidade, e melhor, entre ironia e seriedade. Não percebe que tão ecologicamente correto como acolher animaizinhos e cuidar do planeta, é tratar o próximo com hombridade e respeito.
A esta toupeira ecologicamente correta, meus pêsames, não posso receitar e se pudesse, não haveria remédio algum, senão educação, para lhe indicar diante de tanta demonstração de ignorância. Aconselho, se conselho algum couber, que releia o texto e tente, ao menos tente, observar a ironia nas entrelinhas, e nas linhas mesmo, porque nunca a disfarcei.


Mas, caso nada disso seja o suficiente. Digo: Não, não desejo a morte, a extinção, o extermínio, o sacrifício destes animaizinhos tão meigos e doces como as toupeiras, não, o que desejo é a extinção da outra toupeira, da toupeira-sacana, que se alimenta do sangue e do suor dos outros. Identifica-se também?


Chego à conclusão que o blog não é tão inabitado assim, e se, alguém se doeu com o extermínio das toupeiras-sacanas, ou é ignorante ou faz parte deste grupo de seres humanos que insiste em utilizar atitudes-toupeiras diante das pessoas. Ignorância ou identificação? Descubra você, a mim , diante disto, só tive mais oportunidade de zombar e de usar a boa e velha ironia para falar dos comentários recebidos, não farei isso sempre, porque seria perder tempo, tempo o qual nem sempre tenho para isso, mas valeu por ter rendido mais uma oportunidade para ser irônica.


A estes, meus sinceros e devotados agradecimentos.