quinta-feira, novembro 04, 2010

terça-feira, novembro 02, 2010

Ana pelos olhos de Otto, Otto pelos olhos de Ana


Uma história de amor e de coincidências. Este é o cerne de Os amantes do Círculo Polar (Julio Medem, Espanha, 1998). Tudo se passa quando o expectador conhece Otto e Ana, duas crianças que têm o rumo de suas vidas afetado por uma série de coincidências intrigantes que ora os afasta, ora os une como se tivesse controle sobre suas vidas.


As coincidências acontecem desde o momento em que Otto, ainda menino, vai buscar uma bola que, por uma dessas coincidências do destino, não foi chutada direito por um amigo, levando-o a conhecer a menina Ana, atormentada pela notícia da morte do pai, e que, oportunamente, imagina que Otto seja seu pai, encarnado no corpo do menino.


Some-se a isso uma boa dose de interferência no destino , o que provocará mais uma sequencia de infinitas coincidências que ligará as vidas de Otto e Ana para sempre. Ao longo do filme testemunhamos o crescimento das duas crianças, a descoberta do amor e do que mais os movia: a busca pela maior coincidência de todas, a coincidência de suas vidas. Era isto que ambas as personagens esperavam.


A narrativa não-linear em que muitas vezes se confudem o Otto menino com o Otto adulto, jovem, a Ana adulta e a Ana menina, parece querer nos mostrar que, durante a vida, somos tudo isso: crianças, adolescentes, jovens, diante de inúmeras coincidências que a vida vai nos pregando ao longo de nossa existência, ela nos convoca inteiros, em todos os nossos devires, criança, jovem, adulto, somos todos um mesmo, de trás para frente, de frente para trás, como bem anunciam os palíndromos que formam os nomes : ANA e OTTO.
Assistimos ao filme tanto através dos olhos de Ana, como pelo ponto de vista de Otto. Os olhos têm um papel importante neste filme, podemos até dizer que estes é que são os verdadeiros protagonistas da película de Medem: "Otto pelos olhos de Ana, Ana pelos olhos de Otto" constrói a perspectiva do próprio espectador diante da história das vidas cruzadas das personagens interpretadas por Fele Martínez ( Má educação) e Najwa Nimri.
Durante o filme entendemos o truque das coincidências que une Ana e Otto, dois palíndromos, nomes que podem ser lidos da esquerda para direita que não mudam seu significado. O que quer dizer estes palíndromos? Ana e Otto são os mesmos, criança, adolescentes e adultos, de trás para frente, os mesmos e da mesma maneira ligados, unidos e sempre, à espera.

Assim é a história dos Amantes do Círculo Polar. O círculo Polar e seu sol da meia noite são a metáfora perfeita para a atemporalidade da vida, um lugar onde o sol não se põe permite que a vida continue, as coincidências continuem a espreitar.


Julio Medem parece ter acertado em traduzir para o cinema toda o mistério da vida e de seus descaminhos, especialmente parece ter encontrado o modo mais belo de dizer-nos que somos esse joguete diante da vida, mas que, nem por isso, deixamos de utilizar o livre arbítrio. Belo, sensível e profundo, assim é os Amantes do Círculo Polar.