quarta-feira, dezembro 20, 2006

Uno Four - When it's real it's forever.

Já faz um tempo que eu quero vir aqui escrever sobre o Uno Four. Preciso de palavras bonitas, aquelas que estão no dicionário apenas por vontade própria, mas que, na verdade, gostam de se exibir nas poesias dos Quintanas, dos Drummonds e das Clarices da vida.
Eu queria mesmo era meia dúzia delas. Assim, como se fosse pão, que se vendesse. Por mais que eu tente, as palavras bonitas e poéticas não vem, elas teimam em sobrevoar a minha cabeça e de lá mesmo sumirem no mundo, nas páginas de alguém, mas não nas minhas.
Eu só queria essas palavras pra poder escrever algo sobre o Uno Four. Um grupo de quatro amigos, e, porque não dizer - espiritamente falando- quatro almas? Ok, se preferem uma metáfora católica...o encontro de quatro irmãos em cristo, unidos por um ideal.
Tudo bem, sei que parece muito sério e todo o tipo de seriedade é desconhecido aos quatro, convenhamos...queria mesmo falar de nós quatro e as palavras, essas as quais procuro, não aparecem, teimam, riem de mim e fogem.
Queria ter o talento de um desses nomes a quem as palavras adoram. Parece que elas vinham fáceis e lépidas e pairavam ali, bem no papel dos poetas que teriam apenas a gratificante missão de eternizá-las...Daí, “Como é bom morrer de amor e continuar vivendo” e tantas outros aglomerados de letrinhas famosos até hoje...
Eu, que não sou Vinícius, também estou longe de ser Florbela. Queria falar dos meus amigos, então, na falta de melhores, vão essas mesmo.
Sinto tanta a falta de vocês, sinto falta dos encontros na cozinha, sinto falta dos insights e dos sorrisos. Sinto falta do bebe-recalca, e também dos outros neologismos criados por nós. Até do famigerado caderninho, eu sinto falta.
Eu sinto falta, e me pego pensando no porquê de tamanho buraco. Penso e repenso e vejo mesmo que é uma questão de encontro de almas. Por que é tudo tão interessante quando estamos juntos? Por que parece que estamos sempre aprendendo, sempre nos compreendendo melhor a cada conversa jogada fora. Jogada fora? Jogada é dentro!
Dentro de cada um de nós, a conversa entra, é digerida e nos transforma em pessoas melhores. Sim, porque eu mudei para melhor, e tenho certeza que vocês também.
Sinto falta do cheiro do café, da vodca e das coisas que não tem cheiro. Sinto falta da macarronada, sinto falta até das milhões de fotos que insistiam em tirar.
Eu sinto falta amigos, eu sinto falta do David, eu já sinto falta dele. Sinto falta do sorriso, da unicidade de uma criatura que, certamente, daqui de dentro do meu coração não sairá. Ele voltará falando mandarim, assim espero. Pode voltar falando árabe, pode voltar até mudo. Mas que volte. Hum, David mudo? Muito mais fácil voltar mudado, mudo não deve ter graça alguma!
Eu sinto falta de Marina, e sentirei muito mais, quando ela também for se aperfeiçoar no mandarim. Eu sinto falta por que ela é ela: querendo adjetivar posso correr o risco de limitar a sua pessoa, coisa que, com certeza, a senhora não é e nem deseja sê-lo. Não há definições, tampouco parâmetros pra medir o que você faz a mim, longe ou perto. Não há dimensões humanas possíveis que possam te colocar em palavras. Então, na falta delas – veja bem, nem as palavras normais e nem as poéticas, as que eu estava procurando, são cabíveis a você – Melhor é desistir.
Sinto falta de Cami, com seu jeito alegre e ao mesmo tempo preocupado, sinto falta do seu caderninho e de seu carinho. De suas preocupações e de seus feedbacks, sinto falta do seu discurso às vezes verborrágico, às vezes agressivo (lembro que ainda trabalho pra você). Sinto falta de você.
Eu sinto falta de Marina, de Camila e de David, eu sinto falta de vocês que já são partes de mim, eu sinto falta de mim com vocês e de vocês comigo. Sinto falta das risadas, sinto falta de nós quatro.
Não vejo outro destino a esse texto do que cair no estilo dramalhão. Não me importo. Vejam, eu queria usar de poesia, não conseguindo, saem só as palavras mais sinceras, menos polidas, mais brutas, mas não menos verdadeiras.
Palavras sem maquiagem, que expressem o que sinto com a falta de vocês, aqui, do meu canto, e vocês, seguindo o caminho de vocês.
Não me importo com o grau de esquizofrenia que esse texto possa sugerir. Eu me importo em apenas dizer, que sem vocês eu não sou eu, que admiro cada um de vocês, no jeito especial que cada um tem.
Agora que chego ao fim do texto, me apareceu um verbo poético, o verbo amar. Será que uso? Uso.
Uso sim, porque sinto. Sinto um imenso amor por cada criaturinha que me faz sentir tão bem só por saber que podemos ter um ao outro. É, eu amo vocês. E qualquer detalhe a mais nesse texto, pode transformá-lo em algo mais dramático.
Isso é apenas um texto de alguém que, não sendo poeta, inventou de colocar verdades numas linhas e começou a sublimar acerca do vazio que é a vida sem vocês. Longa vida ao Uno Four.
(Na verdade em nenhuma palavra e nem em um milhão delas cabem o que sinto por vocês).

terça-feira, novembro 07, 2006

Feminino e Masculino: a Eterna pendenga

Ao se estudar a história da sociedade ocidental, pode-se notar os diversos lugares já ocupados pelo feminino no imaginário do homem. Assim, durante muito tempo foi-lhe atribuído lugar de mistério e até de horror. Segundo Freud, em “O tabu da virgindade” , texto escrito em 1918, o homem tende a ser enfraquecido pela mulher, uma vez que é contaminado por sua feminilidade.
Ora, parece que essa afirmativa deixa-nos vislumbrar por quais motivos, na maioria dos tempos, à mulher é dado um lugar de menos-valia perante a “superioridade” masculina.
Assim, somente há cinqüenta anos as mulheres conseguiram pleitear o direito ao voto, somente há pouco tempo conseguiram se desvencilhar dos domínios do privado, do lar, para adentrar no mercado de trabalho, mundo outrora pertencente exclusivamente aos homens.
Apesar de toda as conquistas alcançadas pelas mulheres ao longo dos séculos, há algo que permanece intrigando: Por que a desvalorização feminina persiste em certos aspectos? Temo que o problema tenha sido ocasionado mesmo pelo excesso de liberalismo proporcionado pela sociedade contemporânea. A sociedade da qual fazemos parte, somos influenciados por e influenciamos.
Portanto, quando se fala em liberalismo, revolta feminina, é difícil não pensar no movimento feminista que chegou ao seu auge em meados dos anos 70 do século passado: queima de sutiãs, mulheres reivindicando os mesmos direitos dos homens, o radicalismo era a tônica do movimento neste princípio.
Apesar de terem obtido muitas vantagens que se tornaram de suma importância nos dias atuais, o movimento feminista radical nada mais reivindicava do que uma oposição de papeis; se antes o “poder” estava centralizado no masculino, vamos revertê-lo, mudar as posições para que assim as mulheres, o feminino comande. Uma inversão de papéis. Nada mais. E onde fica o espaço para a diferença sexual? Será que ainda é necessária?
Atualmente fala-se muito dos erros dos movimentos feministas e ensaia-se um feminismo “paz e amor”, ou um feminismo “light” em que as diferenças entre homens e mulheres são respeitadas, não há mais espaço para aquele afã de mudar o comando, a hierarquia entre os sexos: há espaço para homens e para mulheres.
Fala-se em mulheres livres para assumir tantos papéis quantos lhe convier, dessa forma, a mulher tem direito sim a um espaço no mercado de trabalho, posto que conseguiu uma formação educacional privilegiada que permite-lhe alçar maiores vôos, comandar empresas, serem economicamente ativas e independentes.
Além desse lugar no “mundo dos homens”, a mulher, e falo a mulher por considerar uma grande maioria, ainda pensa em constituir família, em ter filhos e assumir um posto de cuidado no lar. É a assunção da mulher-faz-tudo. Tal como o homem de antigamente, o que consertava tudo em casa. A mulher atual tem sido um pouco assim, “faz tudo”.
Apesar das visíveis mudanças no papel da mulher na sociedade, é importante pensar aqui nas conseqüências dessas alterações. Não podemos esquecer que a sociedade em que falamos é uma sociedade de consumo, gerida pelo reinado das imagens e em que aparência torna-se mais importante que qualidades essenciais.
A mulher que tem, assim, poder econômico, torna-se um sujeito, mas, sobretudo, um sujeito que consume, um sujeito assujeitado aos imperativos da época. Assim, consomem freneticamente os cremes anti-rugas, cirurgias estéticas, cirurgias de redução de estômago, cremes anti-sinais. Um objetivo: fazer-se desejável, minorar as marcas do tempo.
Sim, a mulher além de desejar um lugar no campo público, continua desejando ser vista, admirada e desejada. Olhos do outros são de suma importância, ainda, com todo o feminismo xiita, deseja-se mesmo é a admiração alheia. Para tanto consome, consome como nunca antes.
Nesse contexto consumista é que entra a desvalorização: até que ponto pode-se ir no jogo da conquista? A sociedade fornece as opções, as tentações, o dinheiro os recursos. E o inconsciente , o desejo.
Não me parece por outro motivo que vemos a desvalorização do feminino comparado a um pedaço de carne de boi no frigorífico. Sim, a superexposição do corpo, o corpo todo dado a ver, a supressão de provocação. É a carne exposta, e nada ainda se sabe do feminino, do que é a feminilidade.
Talvez nós nos enganemos ao associar aquilo que se mostra na capa da revista masculina com o feminino. Ali está estampada a carne à venda, tal como os cremes anti-sinais nas propagandas de revista de moda. A carne e somente ela, não diz acerca do feminino, que continua assombrando os homens e servindo de debate entre intelectuais, servindo de argumento de obras de arte (como esquecer a Monalisa, como não citar a moça do brinco de pérolas de Veermer?) desde que o mundo é mundo.
Quanto mais a sociedade do espetáculo despedaça a carne, menos se sabe sobre o feminino, como ele nasce e como se relaciona com o masculino. E assim...vivemos na base do eterno progresso-retrocesso...e isso desde que o mundo é mundo...

quarta-feira, outubro 25, 2006

Esquecendo bússolas




Depois da queda restam duas possibilidades: ficar caído lá no chão à espera de uma mão amiga que te erga, ou erguer-se por si mesmo, lenta, dolorosa mas, verdadeiramente. Depois da queda é mesmo levantar, erguer-se em cima dos joelhos, olhar para cima, porém, não esquecer de dar uma olhada para baixo, para aonde se estava caído há pouco.
Pode ser que demore um pouco, o certo é que a gente sempre levanta, sacode a poeira das roupas, dos solados e parte pra vida. Parte pra vida porque somos desejosos de ar (pelo menos a maioria de nós). É por sermos tão sedentos de ar que vamos em frente, saímos do chão frio e vamos em busca de novas direções. Interessante é seguir um novo percurso, desprovido de bússola. Esqueça o GPS e seja feliz, mude as rotas, e procure aproveitar os dias de sol, aproveitar os momentos alegres e ter a maturidade suficiente para sabe-los apenas momentos. Momentos que são, evanescem para se tornarem memória, pó do que foi um dia.
Como diz a sabedoria popular, não há bem que dure pra sempre, tampouco mal que nunca se vá, não sei literalmente, mas, a bem da verdade, o que quero dizer é que, momentos, tanto os bons quanto os péssimos, passam, necessário é ter paciência, pra ver o curso das marés mudar, pra acompanhar a lua mudar, pra enxergar o sol de todo dia nascer, todo dia, impreterivelmente, por que disso temos certeza, ele vai nascer.
Eu tenho andado ao leo, sem bússola, sob o sol, esperando o curso da vida mudar, e me interessando pelas surpresas que a vida ainda me reserva. É tudo o começo de algo que não sabemos no que vai dar, e daí a única certeza: o sol nasce todos os dias, a escolha é apenas sua: se jogar no chão e deixa-lo ir, ou erguer-se, levantar a cabeça e comtemplá-lo.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Dói

Os poetas, os romances, as músicas, os escritores, os cancioneiros, os cantores, os jornais, a televisão, as novelas, as senhoras mais vividas, as meninas não vividas...bem que todos sempre parecem dizer...amigo, quando dói assim, é dor de amor. Parece que nem era pra doer, parece não ter localização fixa, irradia, machuca, fere, dói que ninguém parece perceber, senão a gente. Dói por não ter local,dói por ser angústia...dói invisível mas dói tudo.
Dói nos joelhos, nos pés e nas mãos. Dói até os cabelos!Dói a cabeça cansada de pensar e de lembrar, dói nos cotovelos.
Dói dormir e sonhar que tudo está como antes no lugar, mas dói acordar e ver que era apenas um sonho. Dói no sono, dói na falta de sono. Dói até na fome, que não passa com comida. Dói sem ninguém ver. Mas, que nada, há de haver alguém interessado em nossa dor? A dor tão íntima e tão nossa, aquela que não nos deixa?Não, amigo, a dor, é minha só e não é de mais ninguém, alguém já disse.
Dói o esqueleto, dói a alma e a vontade, dói também o coração, que parece se encolher tal como se encolhe um corpo frio no chão da sala. Dói e encolhe. E dizem que dor assim, só pode ser dor de amor.
Dói infinita e indiscretamente. Dói o juízo, dói. Dói a lembrança de não mais ter o que se teve, dói no peito não poder reverter, dói estar nas mãos de alguém, mas não mais estar no coração.
Dói insuportável e completamente. Dói amor, dói. Dói não te ter nas maõs, dói e deixa um vácuo repleto de lembranças.
Está doendo, está ferido algo cá dentro. Dói demais e sempre mais. Dói e não para de arder. Talvez demore a sarar, talvez o prognóstico não seja agradável diante do lamentável diagnóstico. Dói, está doendo e , enquanto nao passa, só pode é doer mais. Dói, amor.
e há quem diga que só se dói assim se for de amor.

segunda-feira, outubro 09, 2006

A selva humana - leitura básica para presas novas e predadores

Eu às vezes paro na frente da tevê e fico aqui passando um canal, outro, outro...acho graça e interessante uns animais sabe...aqueles do discovery channel, nossa...os animais realmente surpreendem, um leao em posição de caça, uma zebra alerta pra dar o bote...
Mas sabe o que acho mais interessante?o comportamento do ser humano...esse sim, verdadeiramente surpreendente.
Sempre cheio de nuanças, mudanças radicais que nos pegam de surpresa e podem ate - se é que estamos falando do discovery channel - entreter os mais ávidos espectadores.
Fico aqui pensando...ser humano é um barato, ama, odeia, volta a amar, gosta, mas ama, nao sabe o que sente, mas ama...é uma diversão só!Vi dia desses alguém falando sobre essa duvida cruel que assola a espécie dos humanos: o que quero?
Eu às vezes penso qu as pessoas não sao feixes de instintos e que, em um momento, existe "eu quero" eu nao quero"..como não se trata aqui de zebras e leões...o sentimento, por exemplo, o amoroso, presume-se que seja verdadeiro enquanto durar...o que não vale, na selva dos homens, é enganação, é o que muita gente fala.
Mas peraí, podem dizer, mas traições não são o caminho, o caminho é o bom e velho diálogo, Içami Tiba que o diga! Acontece que o bom e velho diálogo não vale muito mais do que atrações súbitas e juras de amor trocadas de véspera. Não, atrações são mais legais, mais emocionantes e nos faz sentir vivos, então, se quisermos ser vivos, melhor darmos o bote e deixarmos a presa antiga, lá morta...vai dizer que não é questão de instinto?
A verdade, caro amigo ou amiga, é que nenhuma certeza realmente existe e nos acalenta, nos nina e bota para dormir. Certezas são ilusões que ouvimos e dizemos a nos mesmos e aos outros. Depois das certezas, vem as desilusões e os consequentes baques. Sim, vivemos em selvas, o animal mais visível aos olhos certamente leva vantagens em cima do animal que não aparece. Nâo é a lógica?Como abocanhar o que não está no campo de visão? Até sabemos dos ferormônios, sabemos sim, poderosos na arte da conquista e do acasalamento animal.
Então o que nos faz pensar diferente? somos por acaso diferente dos bichinhos que vimos na tevê.
Não somos, por que a sinceridade dói, pq a conquista eh necessária e porque , porque simplesmente o ato de caçar é revigorante, muito mais que a presa dada. A presa dada sempre perde, pense nisso amigo. bom mesmo é ser a novidade, é jogar armas pra conquistar. Isso deixa o ser humano - animal em situações difíceis, mas não menos prazerosas.
Freud certa vez falou que se não houvesse a civilização estaríamos entregues aos insntintos humanos que são de fato corrosivos , desrespeitosos. Ora, Freud, acorde, realize, a selva existe denrto de nós, a selva precisa existir pra sustentar a vida, sobre a selva dos sentimentos humanos, civilização nenhuma pode jamais ser construída.
Isso é porque somos fúteis, por que somos levados e levianos, porque desejamos o que é do outro, porque o que temos não mais importa e porque, é preciso caçar. Comportamento humano não é muito mais que isso, i nstinto, imbecilidade, e muita semelhança com os gorilas.
Vou deixar mais claro pra vc, gorila-homem, ou ratazana-mulher: Você não é não, superior aos animais selvagens do Discovery Channel, você realmente não o é, e sabe o porque?Por que a leviandade impera, porque impulsos de caça valem mais do que qualquer tipo de sentido de civilização. Um bom exemplo, como citei é o amor. O que é o amor?Eu acho bonito os rituais de acasalamento dos animais, temo pelo ser humano, sempre procurando atiçar seu desejo, sempre atrás de outras paragens, enfim, renovar é preciso. Felizmente ou infelizmente, a felicidade que é sempre buscada nem por essa mudança cruel de objetos é alcançada. Mas o que estou falando? a verdade é que nunca pode ser suprida nossas necessidades. Seja você a presa nova ou a velha, não se iluda, querido ou querida, serás sempre a presa destinada a ser passado (a) pra trás, porque é assim o ser humano, racionaliza em cima da banalidade animalesca: 'não é você, sou eu" "você é legal,mas"...quando na verdade...instintos, impulsos, caça, necessidade preenchida imediatamente.
O que cabe às presas trocadas?chorar e "fazer o luto" , o que cabe às presas novas "viver o momento enquanto não se é presa trocada" . Não é discovery Channel, tampouco é bolsa de apostas..é o mundo humano-animal.
Sinta-se à vontade para usar, abusar, enjoar e trocar...porque essa coisa de que somos mais que animais é balela, e que amor nada maisé do que uma palavra, inventada por algum humano, em alguma época da história para descrever um sentimento , mas, existe sentimento?Existe algo que nos prenda e nos assevere carinho extremo ao próximo?Olha....é um ponto bom de se discutir..sentimento também é outra palavra inventada, pobre gorila!
Por isso, viva os instintos, viva o acasalamento em ritmo acelerado e descartável do ser humano, viva isso tudo!!A selva é aqui, pegue seu lugar entre as árvores de maiores copas, e vá a caça.
Amor, Sentimento, Carinho, palavras, palavras...enfiadas em dicionário.

domingo, julho 23, 2006

Do que vai e do que volta



Quando a gente vai tudo é urgência
É valentia, é questão de desbravar
A gente chega,
Pensa que é um só
Pensa que é coragem
Quando a gente vai nada dói
Como se houvesse um quê de pedra
Lá onde mora o coração
Quando a gente vai,
nem existe memória
Fotografia ou recordação
Quando a gente vai
Não existe lamento
Tampouco sentimento
Quando a gente vai
O que importa mesmo é ir
Pena é que quando se foi
Já não se é o mesmo
Lá ficou algo de si
E que, pra surpresa nossa, não volta
Aqui,
Uma versão apenas
Quando a gente volta
A vida é outra
Digo mesmo que o rio é outro
Quando a gente volta
Sabe o que perdeu
Tentando outra coisa encontrar
Quando a gente volta
Não é a casa que se torna
É a outro lugar
Que a gente não sabe situar
Nem sabe mesmo aonde ficou
Quando a gente volta
Tudo é diferente
E a sensação que se tem
É de que nunca se foi
E que dali
Nunca desejamos sair
Quando se volta
Já não se volta o mesmo
É outro
E o lugar soa apenas
Como um estranho familiar




*Ilustração: Quadro "Garotas na ponte", de Edvard Munch *

segunda-feira, julho 17, 2006

A hora da retirada

Fico pensando aqui que existem pessoas que realmente não sabem a hora de se retirar, de sair de fininho, de não deixar rastros, de simplesmente sumir. Acho eu que se retirar é a melhor solução quando não se tem solução. Muitos entendem retirar-se como sinônimo de fugir.
Não concordo plenamente. Acho que se retirar é uma saída honrosa, bastante íntegra. Antes de se retirar geralmente existem as fases de reflexão, tentativa e decepção. Algumas pessoas se retiram sem passar por essas fases, refletem apenas, tratam o que desejam como impossível, e se retiram.
Retirar-se dignamente, na minha concepção é passar por todas as fases, refletir sobre o que se deseja, tentar conseguir o que se deseja (é aí que se deve se empenhar ao máximo para conseguir o objetivo). O que vem depois da tentativa – mal fadada, vale dizer – é a decepção. Não se atingiu o objetivo...o que resta??Retirar-se. Pairar por aí, a procura de novos encontros, esperar desencontros, novas tentativas. Pra mim é questão mesmo de ensaio e erro.
Se a humanidade lidasse bem com a decepção e com o fracasso, certamente haveria menos tragédias. Não quero cair em lugar-comum e dizer que haveria menos fome, degradação, violência, guerras...quero falar das tragédias micro, das que nós vivemos, no nosso canto mesmo, sem invadir país algum.
O importante é que depois que se decepcionar nós saibamos a hora de pegar o bonde de volta e simplesmente admitir: perdi. Perdi porque não se ganha sempre, perdi porque era pra perder, o até: “Perdi, mas eu nem queria ganhar mesmo!”. Saber perder é isso, é saber que se é um perfeito idiota ao tentar, mais idiota ainda por desejar, e principalmente idiota por não conseguir. Ora, O importante não é competir, o importante é vencer, deixemos de tentativa vãs de acomodação. Perder é péssimo, e, quando perdemos, devemos é sair, abandonar o barco, pegar nossas malas e cair no mundo. Perder é péssimo mas reconhecer-se perdedor é revigorante.
Fico pensando no que há de tão horripilante quando nos vemos como perdedores. Não chego a outra resposta que não a queda do Narciso, o destronamento da majestade. Perdemos e perdemos feio. Agora, o que fazer?Aceitar é o primeiro passo para que se tente ganhar outra vez. Acho eu que uma perda dá um novo sabor a próximas tentativas de conquista....aparece um novo objeto de nossas entranhas, amamos fervorosamente, queremos ardentemente, e...quando vemos, aquela derrota, aquela lá, acabou-se, evanesceu, logo estamos, de novo, empenhados na nova tentativa, que parece mais instigante, mais colorida, mais merecedora do nosso empenho.
É importante perder, essencial saber perder, manter-se de pé e voltar a tentar. Penso no Mário Quintana, que dizia bem assim, que se as coisas são inatingíveis, isso não é motivo para não quere-las. Tudo bem, Quintana, é importante o empenho, mas, otimismos à parte, tem uma hora que chega não é? o inatingível é apenas inatingível e não será eu que vou atingir!Até otimismo tem limite.
Eu sei me retirar, por isso, refleti, tentei imensamente, mas, vã ilusão, evanesceu, decepção é caminho pra retirada.

terça-feira, julho 04, 2006

O dito e não dito

Já ao nascer o ser humano se depara com a inquestionável fragilidade de si perante o mundo que se descortina aos seus olhos. Tudo é diminuto e tão mole...A sensação é que podemos ser partidos ao meio, quebrar, assim, de uma hora pra outra. Somos, ainda na fase bebê, providos de sistemas fisiológicos complexos do qual nada sabemos, nem sequer podemos falar. Sim, somente sabemos nos expressar através de choro e grunhidos, os quais, felizmente, nossa mãe sabe traduzir.
Aos poucos, o ser humano vai fazendo parte do mundo simbólico, ele vai adquirindo espaço através da voz, da fala. A linguagem é um modo aperfeiçoado, através do qual podemos reivindicar, discutir, convencer, brigar, amar...Enfim, uma vez que nos foi dada – ou adquirida – a linguagem, nunca mais fomos os mesmos. Podemos falar e nos expressar e, presume-se, que, ao ouvir, todos os que nos cercam vão entender.
Apesar de ser uma aquisição bastante antiga, há um certo descompasso ao utilizar a linguagem – falo da fala. Há pessoas que crescem sem saber falar de si, sem saber falar do outro e, desse modo, não se fazem entender e tampouco estão preocupados em ouvir.
Há gente que paga para falar, indo a psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, Há quem estude para calar e deixar o outro falar. Há quem prefira ir a um bar, pagar pra poder conseguir falar aquilo que não consegue calar internamente.
Há gente até que fala de graça diante de um padre. Há gente realmente problemática que não sabe falar e que não sabe ouvir. Há quem diga mais no silêncio do que com mil palavras recheando suas bocas.
Há gente que diz sem dizer, há quem fale de amor brigando aquilo que não consegue falar de amor amando. Enfim, é realmente um problema a aquisição da linguagem para alguns seres humanos.
Mas, o que realmente se quer dizer? O que é tão temível que cala a voz? Para responder a esta pergunta teríamos que olhar para dentro de nós mesmos e, individualmente, buscar nossas respostas. Acredito que nem todos possam fazer isso. O que não é dito, certamente já está dito internamente, num lugar onde somos, aonde não pensamos. No nosso inconsciente, no Acheronte nosso de cada dia.
Engraçado também é que, depois que colocados em palavras, alguns sentimentos parecem perder o brilho que têm quando sentidos. É, mais uma vez, a tentativa do se humano de definir, de problematizar tudo que vê pela frente. Pobre é aquele que aprende a palavra “saudade” através do dicionário.
Posto que “Saudade” não se define, mais aconselhável é senti-la, cada um, e defini-la dentro de si mesmo. Violência mesmo é o que fizeram com “eu te amo”. A sonora frase foi transformada em melodia, metida em sonetos, exposta aos olhos de todos, posta na boca de todos....Eis o “eu te amo” na mídia. Os ortodoxos sentimentalistas defendem que jamais se deve banalizar tal frase, outros, pouco preocupados com a forma e com o conteúdo da frase, saem entoando-a a torto e a direito.
Eu sou a favor da fala, da escuta , da análise do que falamos e do que escutamos do outro. Eu, especialmente, sou a favor que se diga, no silêncio ou na gritaria. Apenas que se diga e que se sinta pra dizer, pois, o que vale dizer sem sentir?

terça-feira, junho 20, 2006

A pele que reveste o ser amado

Quando começamos um relacionamento, ou mesmo quando estamos só apaixonados, nossos sentidos são completamente alterados, além de termos nossas faculdades mentais levemente embotadas, nosso senso crítico torna-se altamente prejudicado.
A causa de todo embotamento intelectual não pode ser outra que a presença do objeto amado.
Segundo a física quântica, o fenômeno é alterado pelas expectativas do observador empenhado a investigá-lo. No apaixonamento, podemos dizer que ocorre algo semelhante. Nada pode deter o brilho que o ser amado ou o objeto amado irradia. Esse brilho nos atinge, na categoria de observadores, de tal modo que já não pensamos ou sentimos apuradamente. Tudo está investido no outro e é para o outro. Pouco sabemos sobre nosso narcisismo quando estamos apaixonados.
Os sintomas fisiológicos nós estamos cansados de conhecer: taquicardia, sudorese, vermelhidão na face...há de se presumir, pelo menos uma coisa, esse objeto de amor realmente é poderoso. Segundo nossas expectativas, ele pode se tornar tudo do que precisamos, e é geralmente isto que ocorre.
Não mais que de repente o objeto de amor nos arrebata, influência nossos sentidos e não é por suas qualidades que o amamos, e sim, utilizando o pensamento da Física Quântica, por aquilo que desejamos que ele se torne. Assim, encontramos a “razão de nossa vida”, alguém capaz de preencher uma falta que – ilusoriamente- pensamos poder extinguir. Sim, nós influenciamos o fenômeno – o objeto de desejo – através de nossas expectativas em relação a ele.
Nessa tentativa vã de preencher a falta vestimos com outra pele o objeto de nosso desejo, damos um colorido maior, para que assim possamos nos apaixonar. O triste e o que invariavelmente vamos descobrir, mais tarde, é que a pele com a qual vestimos nosso objeto de desejo não faz parte realmente do que ele é, não diz nada e nem reflete nada sobre ele.
Ou seja, através dessa pele nova, vemos outra coisa, vemos beleza, vemos magnitude, vemos coragem, vemos inteligência. Vemos tudo, menos o que realmente é o sujeito. O sujeito por baixo dessa pele especial em nada lembra o que vemos diante de nossos olhos – ofuscados pelo brilho, O objeto de desejo, podemos dizer, é tudo, menos o sujeito real, aquele que não queremos ver, que tem defeitos, que não é capaz de saciar nossa necessidade de completude. Não, ele não o fará, nunca, e isso é o que temos que aceitar.
Aceitar, no entanto, não significa deixar a ilusão de lado. É fato que, apesar de todo o engodo em que estamos envolvidos, a sensação de apaixonamento é importante, revigorante até, dá um colorido as nossas vidas. Não devemos deixar a ilusão de que alguém irá nos completar, ela é vital, faz a nossa vida circular. A ilusão é sempre necessária.
O triste é sabermos que essa pele especial, de brilho próprio e insinuante, tende a descamar ao longo do tempo, ela vai rompendo, descascando, perdendo o viço, perdendo a cor até que... a tragédia se dá: avistamos o sujeito entranhando ali. O sujeito como ele é verdadeiramente nos assusta e nos remete a nós mesmos – ou não temos nós nossas falhas e nossas incapacidades?
Narciso que é, o ser humano odeia tudo que é espelho, após essa “visão do inferno” tende a um outro movimento, ao afastamento e, por que não dizer, asco, repúdio? O sentimento que se tem é de incompreensão: Como pudemos nos apaixonar por isto?Onde está o tal brilho que vimos?
Nunca se vai ter respostas para tais desafiantes perguntas. O que interessa é que, em um dado momento, estivemos disponíveis ao apaixonamento, queríamos, tivemos expectativas em torno de um objeto o qual vestimos como quisemos, com a pele que mais nos agrada. Triste é que não podemos nos apaixonar sem antes vestir o outro com essa pele tão fascinante.
Dessa forma, estejamos sempre preparados para as palpitações, para a taquicardia e a delícia que é experiência dessa sensação. Como ilusão que é, um dia evanescerá, mas, nos enganarmos dá um certo ar de graça à vida. Então, vamos ao mundo empírico!

domingo, junho 18, 2006

Flectere si nequeo superos, Acheronta Movebo!



Em 1900 essa frase inaugurou, oficialmente, a Psicanálise. Freud deu a luz ao famoso Traumdeutung, a Interpretação dos sonhos e deixou ali um pouco de sua vida, de sua experiência profissional, há até quem diga que deixou seus devaneios.
Pronto, o filho veio ao mundo. Segundo Freud, algo como aquilo não nasceria novamente de suas entranhas. O rebento veio ao mundo e não foi sem espanto que a frase título desse texto foi lida. O conteúdo do livro continua um tanto indigesto para os céticos após mais de um século de sua publicação. Imaginem vocês o que o tal livro não causou no meio científico europeu no começo do século XX.
Cabe dizer que a frase que consta no prólogo de “A interpretação dos sonhos”, “Flectere si nequeo superos, Acheronta Movebo” é da autoria de Vigílio e consta na “Eneida”. Em bom português significa: “Se não posso mover os deuses de cima, moverei o Acheronte”.
O Acheronte do qual fala o médico austríaco é o mesmo rio localizado no inferno descrito por Dante em “A divina Cómedia”. Fico eu aqui pensando... O que Freud quis, realmente, dizer com essa frase no prólogo de uma obra de tamanha significância?
Como qualquer nova idéia, a Psicanálise recebeu pedradas e aplausos. Vamos ser sinceros: mais pedradas do que aplausos. Na época o meio científico alemão, no qual estava inserido Freud não aprovou as idéias do jovem médico. Seu livro foi execrado, criticado. Como assim, o sonho é o guardião do sono? O sonho é a loucura do homem são?
As palavras de Freud ecoavam e causavam cada vez mais espanto e cada vez mais críticas. O fato de que o homem não é o guia de sua própria vida foi um golpe duro demais para a arrogância positivista vigente. Eu entendo porque Freud faz tantas explicações, justificativas ao longo de sua produção teórica. Pode-se pensar que é reflexo das pedradas que recebeu ao lançar suas idéias: O homem praticamente estava no banco dos réus. Isso é refletido em toda sua forma de escrever.
Em “A Interpretação dos sonhos” Freud pretende convencer a medicina, os cientistas de que a Psicanálise é uma nova ciência: O que está proposto é uma quebra de paradigma. Mas...o que pensar do fato de que o homem não governa o que passa dentro de si, o que pensar que podemos, sim, sonhar com as coisas mais bizarras e jamais imaginadas por nós (na vida de vigília e consciente) nem nos mais febris delírios?
Entendo essa frase, utilizada como uma pontinha de sarcarmo do velho Freud. Ora, já que não posso convencer os grandes nomes do Positivismo, as autoridades, como Meynert, que pelo menos exerça alguma influência sobre o inferno. E qual inferno seria este que não o nosso próprio inferno de dentro?
Trancado em nós mesmos, relegado ao porão da nossa existência, coberto de poeira. Lá está o nosso Acheronte. E temos que lidar com ele todos os dias, o que é profundamente desesperador. Mesmo ali, coberto de camadas espessas de poeira, ele grita, esperneia. Lá está e de lá não arreda o pé. Matreiro às vezes, arquiteta novas estratégias sem que possamos sequer imaginar...estamos no andar de cima, e a música está alta.
Nosso inconsciente é barulhento mesmo no silencioso porão em que o trancafiamos. Nosso desejo é jamais ali botar os pés. E foi justamente lá que Freud pôs os dois.
O Acheronte certamente não foi o mesmo depois de Freud. A humanidade, de fato, não é a mesma depois da Psicanálise. Suas idéias sobre a sexualidade humana, sobre os atos falhos, chistes e sobre os sonhos, se na época não foram capazes de mover os “deuses de cima“, no mínimo causaram barulho. O eco ouvimos até hoje.
Por mais que artigos contemporâneos não cessem de sepultar a Psicanálise, ela está aí, está nos consultórios, está nas anorexias, nas bulimias, nos adultérios, nas obsessões, nas esquizofrenias, nas paranóias, nas depressões...está no Acheronte nosso de cada dia.
Talvez a interpretação que fiz da frase não faça sentido para muita gente. Eu considero que, para agüentar aquele bando de gente metido a superior – vamos falar bem rasteiramente agora! – Freud não podia ser um cara tão recluso, tão coitadinho. Se não podia realmente mover os senhores da razão, os detendores do Falo (isso aí já é lacanês, esqueçamos por agora ) , os detentores do logus, um pouquinho de sarcasmo ele devia utilizar...caso não o fizesse, difícil seria fazer-se notar. E parece que ele se tornou até um cara de visibilidade.