sábado, janeiro 24, 2009

Esse tal sujeito do inconsciente




Vamos parar com isso de estudar o sujeito do inconsciente. Partamos do pressuposto de que se esse tal sujeito existe, ele é inconsciente justamente porque não deseja mostrar a cara. Ele vive lá, no canto dele, no porãozinho ao qual o destinamos ao preferirmos todos os dias sair com o sujeito do consciente, este que nos faz companhia durante o dia, que vai às compras conosco, que escolhe as laranjas boas e os tomates maduros na feira.
O sujeito do inconsciente parece ser um cara muito reservado mesmo, ensimesmado, trancado numa coisa como um porão repleto de poeira e habitado por aracnídeos. Ora, o que se esperaria de um sujeito que vive em tão nefasto ambiente?
Quando se estuda Psicanálise, invariavelmente vamos, um dia, nos deparar com o sujeito do inconsciente. Particularmente eu confesso que tive medo quando da primeira vez ouvi falar em tal indíviduo. Ah, indivíduo não, indivíduo é coisa de ciências sociais ou alguma outra disciplina politicamente engajada. Como eu sou da psicanálise, o negócio é que o sujeito se aproximou de mim, cheio de dúvidas, confuso que só ele, e, como se não bastasse o pequeno espaço que costuma alugar em nossa mente, ainda é feito de falta, gosta mesmo é de um dilema e não existe situação em que consiga ter o mínimo de bom senso.
Então agora eu lhes pergunto, por que diabos adentrar na residência de um sujeito como esse,que se gostasse mesmo de holofotes seria consciente, que se gostasse de ar puro não viveria num porão e que se quisesse ser decifrado não precisaria de análise? Eu hein, sujeitinho mais complicado, como se nao bastasse a morada, ainda é apaixonado pela mãe e banhado por culpa, passa a vida a se lamentar pelo que não é , desejando o que não pode ser e nem ter.
Portanto esqueçam isso se ainda há tempo, vão estudar as emoções, os fenômenos sócio-culturais, a exclusão social, a resiliência, as políticas públicas ou qualquer outro objeto. Esqueçam que existe Freud, não passem pela mão de Lacan e nunca, mas nunca mesmo, ousem adentrar em terrenos os quais não se conhece, isso implicaria , sem sombra de dúvidas, em se deparar com o famoso e temido sujeito do inconsciente. Que medo!
Se você dedica seus estudos a essa coisa de conhecer os caminhos tortuosos da mente, ainda há tempo de você fazer algo de mais proveitoso com seu diploma. Pegue-se a algo de aplicação mais prática e que não lhe faça parecer alienado diante de pessoas comprometidas com a competência que todo psicólogo deve ter dentro de si que é tornar seu conhecimento útil para a comunidade e a população.
Eu estou mesmo com a opinião, depois de longos anos estudando a finco esse tal de sujeito, de que devemos é nos preocupar com o que está na nossa frente, com o social , com o politicamente engajado, com os movimentos estudantis, com a promoção da saúde do “indivíduo” e o conseqüente bem-estar. Então parem, de uma vez por todas de procurar chifre em cabeça de cavalo porque esse tal sujeito do inconsciente nem por Freud se deixou visitar, seria pretensão demais acreditar que um dia chegaríamos a entendê-lo.
Partamos para o social, caiamos nos braços do povo e , conscientemente, ajamos como agentes de transformação, vamos mudar o mundo e esquecer que em algum lugar habita um ser casmurro chamado sujeito do inconsciente.