segunda-feira, agosto 01, 2011

Um entre cem sonetos de amor





Em Outubro de 1959 , Neruda, poeta chileno conhecido por ser amigo do amor e exaltá-lo de tantas formas, escreve um pequeno compêndio de uma centena de sonetos dedicados a sua esposa, Matilde Urrutia. Os sonetos são precedidos por uma pequena dedicatória na qual Pablo esclarece suas "razões de amor" , as únicas razões pelas quais se justificam os cem sonetos de amor de madeira que só se levantaram porque a amada Matilde deu-lhes vida.


Em homenagem a todo ser que ama e é amado, trago aqui o soneto número XVII, que faz parte do singelo livrinho de bolso "Cem sonetos de amor" que a editora L &PM lançou este ano. Um poema que cheira a madeira, a sal e nos faz lembrar que o amor, embora quisesse o poeta fazê-lo, não se justifica.



XVII



NÃO TE AMO como se fosses rosa de sal, topázio


ou flecha de cravos que propagam o fogo:


te amo como se amam certas coisas obscuras,


secretamente, entre a sombra e a alma.


Te amo como a planta que não floresce e leva


dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,


e graças a teu amor vive escuro em meu corpo


o apertado aroma que ascedeu da terra.


Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,


te amo diretamente sem problemas nem orgulho:


assim te amo porque não sei amar de outra maneira,


senão assim deste modo em que não sou nem és


tão perto que tua mão sobre meu peito é minha


tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


Pablo Neruda