
Em Outubro de 1959 , Neruda, poeta chileno conhecido por ser amigo do amor e exaltá-lo de tantas formas, escreve um pequeno compêndio de uma centena de sonetos dedicados a sua esposa, Matilde Urrutia. Os sonetos são precedidos por uma pequena dedicatória na qual Pablo esclarece suas "razões de amor" , as únicas razões pelas quais se justificam os cem sonetos de amor de madeira que só se levantaram porque a amada Matilde deu-lhes vida.
Em homenagem a todo ser que ama e é amado, trago aqui o soneto número XVII, que faz parte do singelo livrinho de bolso "Cem sonetos de amor" que a editora L &PM lançou este ano. Um poema que cheira a madeira, a sal e nos faz lembrar que o amor, embora quisesse o poeta fazê-lo, não se justifica.
XVII
NÃO TE AMO como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascedeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Pablo Neruda
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