segunda-feira, outubro 22, 2007

Como viver o resto das nossas vidas




Quando se chega a uma certa idade na vida em que o sujeito não se encontra nem entre os que começaram a viver mas também não pertence ao grupo daqueles que já viu tudo que há de mais estranho nesse mundo, é que se começa a pensar com uma espécie de maturidade verde.

A maturidade verde é quando não se vê o mundo com os óculos coloridos da infância, nem se usa as lentes psicodélicas da adolescência, mas sim enxerga o mundo com a lupa adequada para a idade em que se começam a definir certas coisas em sua vida.

Quando se traz essa lupa nos bolsos, o sujeito já sabe o que são extratos bancarios, conhece o valor do dinheiro, de um abraço e da saudade. O sujeito, presume-se, não tem mais toda a vida pela frente mas consegue ter uma pontinha de esperança por justamente dispor de um certo tempo para acertar como quer passar o resto dos seus dias.

Acredita-se que nessa fase em que jánão reinam as flores da primavera e começam a surgir no chão as primeiras folhas de outono, o sujeito já saiba exatamente o que quer, ou parcialmente. Acredita-se que não faça confusão por um copo de leite frio, por uma discussão qualquer. Acredita-se, piamente, que saiba dar valor às pequenas coisas e veja que, na realidade, elas são as mais preciosas.

Durante essa fase é que ocorrem as primeiras perdas, ou geralmente deveriam ocorrer. No entanto, existem muitos ganhos no caminho. Espera-se que o sujeito tenha encontrado alguém que faça diferença em sua vida, com quem possa já pensar em passar o resto e suas vidas junto, posto que nessa época o sujeito, por ter vivido muito, começa a ter discernimento sobre o que é bom e o que é ruim, o que vale a pena manter e o que merece ser acalentado.

Nessa fase, presume-se que o sujeito não tenha mais o ânimo para viver em constantes buscas, deseja-se uma tranquilidade que antes era vista como tediosa. O sujeito maduro-verde quer alguém para construir a sua vida que, se não está começando, também reserva muito para ser vivida.

Se você se enquadra nessa classificação, não deixe que as coisas realmente importantes para você evanesçam, percam sentido. Aprecie cada momento como uma promessa de vida, saiba calar para não magoar as pessoas que lhe são importantes. Se você já não se acha adolescente, passou há muito pela infãncia e não chegou ainda na fila dos idosos, saiba valorizar a vida ou o que resta dela, abrigando em si os sonhos que agora podem se tornar realidade, não jogando fora o que é útil, mas fazendo a vida valer a pena.

Para a vida valer a pena não é necessário ganhar 20 mil por mês, não é necessário ser magérrimo ou lindo. Para a vida valer a pena é preciso viver em tranquilidade, com uma pessoa que, dentre muitas que você já conheceu, se mostrou especial, desejar compartilhar bons momentos com ela, provavelmente vai se pensar em filhos, em netos, em uma casinha simples para receber amigos e viver aqueles momentos que, de fato, serão importantes quando você olhar para trás e ver que a vida, agora, está passando mais rápido.

É só nesse momento então, que talvez se saiba o que foi importante na vida: Não é formação acadêmica, nem as cifras que conseguiu guardar na vida, nem o número de pessoas com quem se relacionou, nem quantos empregos já teve.

Nesse momento, quando a vida já caminhar a passos largos a sua frente, em sua direção, você apenas vai se lembrar é do primeiro choro do seu filho, do primeiro beijo com a pessoa especial em sua vida, com o primeiro abraço do seu pai, o primeiro passeio no parque de diversões, as histórias por trás das fotos de família, o aniversário da sua mãe, os sorrisos, as lágrimas, o amor, a felicidade, as tristezas e os obstáculos vencidos.

Porque a vida não é muito mais do que essas experiÊncias que, por menores que sejam, nos tornam humanos e sobretudo, nos tornam eternos na lembrança de alguém que vai nos ver partir. A vida é isso, um cheiro de creme que aparece na memória de vez em quando, fotos e lembranças.

Dê valor a sua vida, pense-a além da materialidade e do cotidiano que aprisiona. Se você acha que já chegou nessa etapa, não deixe o que é valioso escapar, nem acalente o que não merece estar em suas memórias. Pense nisso.

Porque se é preciso escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho para ser feliz. Que você não perca seu tempo mais, e, mesmo que não tenha tanta consciência ecológica, que seja adepto da boa leitura, mas, especialmente, conheça alguém especial, para que o filho seja realidade...se isso realmente importa para você.

Se não, desconsidere esse texto e prossiga com sua vidinha, fingindo ainda usar as lentes infantis, retartando os óculos da adolescência. Enganar-se também é viver, mas eu, particularmente, prefiro viver sendo maduramente verde.

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