terça-feira, fevereiro 19, 2008

Non hai revolución: guardando a camisa do Che Guevara no armário



Pois aconteceu. Eis que aconteceu o que estava sendo ensaiado. Fidel caiu. Sim, na verdade não é que ele caiu assim como se cai alguém derrubado por um golpe, como foram tantos outros chefes de estado os quais aprendemos a reconhecer em fotos geralmente sisudas que fazem parte de qualquer livro de História Geral do ensino médio.

Fidel caiu e você pode se perguntar o que isso vai trazer de novidade em minha vida. Eu posso arriscar uma resposta? Muito. Fidel caiu de maduro, renunciou e junto com ele muita coisa vai sendo mudada ou, ao menos, muita coisa se anuncia; é um marco contemporâneo e justamente por isso não devemos desprezar os fatos que acontecem em Cuba.

Segundo Lula (jamais imaginei que fosse citá-lo, mas enfim, cabe) assistimos ao fim da era Fidel Castro e com ela a dissolução do último mito moderno vivo . Segundo pesquisadores da vida do ex- ditador cubano, Fidel logrou êxito em perseguir durante toda a sua vida uma sociedade consumista a qual pintou com cores piores do que realmente tem: a americana e, mais recentemente, seu presidente, o símbolo da ignorância yankie, nosso querido Bush.

Amado e odiado, Fidel era um cara que viveu sua vida para a Revolução, lutando por esta e, mais atualmente, esperançoso desta, às voltas com o discurso self-made man apregoado pelos Eua.

Porém, os tempos são outros. De acordo com Lipovetsky (2007) em seu mais recente livro " A felicidade paradoxal", não há mais lugar para revoluções políticas; há lugar para reequilíbrio da cultura e do consumo.

Rasteiramente falando, a sociedade contemporânea a qual Lipovetsky hoje denomina "sociedade hiperconsumista" assiste à bancarrota dos ideais revolucionários, demonstra maior abertura ao hedonismo, ao consumo desenfreado e à busca incessante da felicidade, esteja ela aonde estiver, num celular novo, num Ipod, num Blackberry, num Iphone, tanto faz, tudo está ao alcance das mãos, portanto, não há a mínima necessidade de revolução.

Dito isto, do mesmo modo que não há mais espaço para Fidel, não há mais espaço para o discurso revoucionário aparentemente chiita pregado e entoado nos DCE's da vida; não há lugar para discurso verborrágico contra o consumo nem mesmo contra a futilidade, esta que a nossa sociedade nos apresenta cada vez mais diante dos olhos e que também pode garantir satisfações reais, por que não?

Está mais do que na hora de retirar Che Guevara - criatura semelhante a um guia espiritual, uma espécie de conselheiro-fantasma onipresente, Chico Xavier do proletariado estudantil - que tanto orgulha os líderes pós-adolescentes, metade emo-metade James Dean em "Rebelde sem causa" das salas dos DCE'S das universidades federais. Filho, tire a camisa do Che Guevara, enterre Fidel Castro, os primeiros sinais de que esse discurso pseudo engajado já foi pras cucuias há muito vieram quando o Lula do ABC paulista virou "Lulinha Paz e amor", aparou a barba e tomou para si o discurso das elites.
O que era o PT nos anos 70 e 80 hoje apenas é uma sombra, sem "personalidade" (odeio a significação do termo no senso comum, mas também cabe) e deve envergonhar muito dos antigos militantes, os que já usavam as sambadas camisas do Che Guevara e passavam metade do tempo gasto na universidade dentro dos centros acadêmicos da vida.

Hoje foi dado o tiro de misericórdia nesse discurso pseudo engajado, aparentemente panfletário: mesmo que não tenha sido por motivo de saúde ou falta dela (declaradamente, diga-se de passagem) que Fidel saiu do poder, ainda assim, podemos considerar que ele caiu e com ele cai também o discurso dos que insistem em tentar trazer para o presente ideais que já não pertencem ou já não se adaptam ao mundo em que vivemos.
Ora que melancolia é essa, companheiro? Temos que aceitar sim a futilidade, o hedonismo, o consumo e tudo mais que a nossa sociedade "hipermodena" nos oferece, é o conselho que nos dá Lipovetsky. Por que? Porque não temos outra sociedade em que viver, porque não pertencemos à sociedade que viu emergir o movimento das "Diretas Já" e muitos de nós nem mesmo viveram o que se padronizou denominar "Movimento Caras Pintadas" de 1992.
Portanto, vamos tirar a foto do Che Guevara do altar, vamos, no máximo, nos contentar (aos simpatizantes) em dizer que votamos no PSTU ou no PSOL e saber que revolução hoje em dia é algo tão impossível como um elefante entrar em uma loja de cristais e não fazer estrago.

Acreditem: Não há nada que se possa revolucionar, as coisas são dadas na hora, à vista ou a crédito, mas são dadas. Compradas, é verdade, mas "na minha mão é mais barato" e, portanto, compramos com o pagamento a perder de vista e isso nos faz até esquecer que estamos pagando. Não, não há lugar para revolução, para ex-petistas revoltados. Não há lugar sequer para continuar culpando o Bush.

Convenhamos: o Bush não está perto de ser a oitava maravilha do mundo, mas não pode continuar sendo culpado por todas as mazelas que acontecem no planeta. Acho, na realidade, que há tanto espaço para Bush hoje como há para Fidel, ou seja, nada, quase nada (Obama está aí para corroborar isso).

O que quero dizer é que não há espaço para radicalismos, sejam eles da ordem do consumo irrefreado ( do qual a sociedade americana transformou-se em protótipo, os desequilíbrios ecológicos e Al Gore estão aí para corroborar isso, também), sejam eles da ordem do discurso inflamado dos antigos revolucionários.

Cá com meus botões eu sempre achei que deveríamos procurar o meio-termo, uma coisa entre a futilidade que assegura uma certa satisfação e um enriquecimento psíquico-cultural-emocional-intelectual (cansei!) para podermos nos dizer seres "felizes". Sempre desconfiei desse discursinho de gente que sai por aí bancando reencarnações de estudantes mortos e/ou perseguidos pela Ditadura, que adora entoar umas coisas que aprendeu nas cadeiras de sociologia, tais como "proletariados do mundo todo, uni-vos!" (acho que não é bem isso, mas cabe!!), mistura um pouco com Foucault, dá uma lidinha - por cima - de Nietzsche e pronto: Eis o revolucionário contemporâneo, nada ou pouco mais do que um patético melancólico que tem saudade do que não viveu e que, se uma bandeira de luta empunhasse não saberia o que fazer com ela.

Abaixo o intelectualismo e a mania de revolução gratuitas, não há espaço, hermano. Fidel caiu, você também cairá. Se quer ver revolução, idealismos e engajamento ligue a tevê na rede Globo e assista a minissérie "Queridos Amigos", lá estará Fernanda Montenegro, a nossa melhor atriz, a mesma que perdeu o Oscar por causa de uns italianos aí. Ah, mas esqueça o Oscar, pois todos nós sabemos que é uma festa consumista americana utilizada como meio de manobra das massas.

2 comentários:

M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M. disse...

oops! foi sem querer!!! ;p

Que triste pensar que não existe mais espaço p revolução. Eu diria que existe, só não existe quem as faça mais...! Td mundo está mto conformado assistindo às novelas globais to care about anything else...e sublimando tudo, vendo 'queridos amigos'...
espero que esse seja um pensamento de pcos..e que outras pessoas ainda acreditem que há um espaço para as pessoas que têm uma ideologia ao invés de uma carteira!
Viva Che! \o/ ;p~~~~
hauhauhauhauhauahuahuahauhauha