terça-feira, julho 22, 2008

Saudade: Meu remédio é rimar



Hoje, mas só hoje,

me permitam falar, daquilo que nos distancia e ao mesmo tempo nos une,
daquilo que é na memória e daquilo a que ninguém está imune

Hoje - juro que só é hoje - eu vou falar de Saudade.

A palavra que existe no dicionário, mas que nenhuma definição consegue abarcar.

Eita palavrinha complicada de se sentir mas tão fácil de falar.

É uma palavra por demais bonita, dizem que só existe no português.

Acredito que o coração magoado conhecem de longe os sintomas da saudade, pois dela é freguês.

Ele começa a apertar,
a doer sem dor explicável
e nem que se vá ao doutor
se resolve e se entende a causa da moléstia desagradável

Eu hoje me permito falar de saudade,
assim, nesse tom meio poético, meio faceiro,
porque entendo do riscado, apesar da pouca idade.

Saudade dói (e amarga que nem jiló)

E eu que não entendo de forró,
entendo que a dor da saudade é pior que dor de dente

E , contrariando muita mulher, digo que é pior que a dor de parir.

A dor da saudade é uma dor silenciosa, indecente

tal como um enfarto, se alastra, se sente o peito partir

se chora por dentro,

mesmo que se mostre os dentes por fora.

A saudade é um bicho danado

que não escolhe dia pra atacar

nem se acanha com previsão do tempo nem com tempo parado:

Faça chuva ou faça sol ela chega, toma parte de você,

Ocupa-lhe o peito e diz: " - Vim pra ficar, aonde liga essa tevê?".

A saudade vai ficando ali, senta-se no sofá e ,

quanto a gente menos espera, já está preparando nosso jantar.

E há aqueles que digam que não a sentem,

dizem ser conversa de mulher deprimida ou de homem traído - como mentem!

Eu digo que pra esses eu tiro meu chapéu,

queria eu ser como eles que dizem ter no peito o elixir pra o diabo da saudade sarar.

Como pra mim ainda não inventaram tal remédio, nem na terra nem no céu

padeço eu de Saudade que me molesta como uma febre, uma pneumonia

toma-me o peito, me faz esquecer quem sou, se é de noite ou se é dia

Ela chegou sem pedir licença, bateu a porta e está ali , reinando no meu fogão

" -Vá fazer comida, saudade, que se você veio para ficar, ao menos me alimente

E que me faça carinho e que me contente!"

Como eu invejo aqueles, pra quem eu tiro o chapéu e dizem não senti-la, nem seu cheiro

mas, meu senhor, não me diga, que já inventaram o tal elixir

Por que a dor é grande, mas, cá comigo , não é questão de dinheiro

Deixa ela ficar, porque aqui dentro eu sei que, assim,

Nesse peito adoentado, bate um coração

que bate só em nome dela e isso até o fim

Por isso não me cure

Deixa ela ficar,

Deixa ela cozinhar e se deitar

Porque a saudade pode aborrecer

Mas nunca vai deixar
De me fazer cafuné, me embalar
e segurar a minha mão prá escrever.

E , de quebra,
senão bastasse ser bela e menina
Ainda me faz escrever isso tudo em rima
Ah, sabe de uma coisa?
Não quero elixir
Que pior dor não deve existir
do que a de ver a tal Saudade partir.

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