domingo, fevereiro 07, 2010

A Esquisita Esquisitologia de Wiseman



O que faz uma pessoa reconhecer um sorriso verdadeiro? Pessoas que sorriem mais vivem mais? Qual é a piada mais engraçada do mundo? Nascer em janeiro faz de alguém mais sortudo do que quem nasce em Julho? De que maneira poderemos distinguir quem fala a verdade de quem mente?



Estas são algumas das perguntas esquisitas as quais assombram e fazem parte da vida do cientista inglês Richard Wiseman, autor do best seller O fator Sorte (2003) e , mais recentemente, do interessantíssimo Esquisitologia: A Estranha psicologia da vida cotidiana (Editora Best Seller, 2008). Em Esquisitologia, Wiseman nos mostra tudo aquilo que achamos que não é ciência de maneira científica. Cercando-se de questões que assombram grande parte de pessoas que podem ser chamadas de "curiosas" , o autor inglês nos ensina que a Psicologia também pode tratar de pequeninas temáticas cotidianas.


Sim, a Psicologia não é apenas complexidade. Ao contrário, Wiseman revela ao curioso e atento leitor que a Psicologia nasce mesmo são das questões miúdas, das aparentemente inocentes questões que nos perseguem desde a infância e , com o passar do tempo, acabamos negligenciado, achando que nada disso terá importância em nossas vidas adultas, atribuladas...e complexas.


O livro de Wiseman conta com seis capítulos em que o autor nos fala sobre mentira e verdade, piadas, nomes e horóscopo, fator sorte , mensagens subliminares, altura de candidatos à presidência, longevidade, música e consumo, etc. Diante destas temáticas, um leitor menos atento poderia pensar que o livro pende mais para o humor do que mesmo para o cientificismo, aquele, de Comte, companheiro velho de guerra. Nada de Wiseman combinaria com Positivismo.


Pelo contrário: Richard Wiseman nos prova por A + B, munido da mais pura Psicologia Experimental ( os termos "Wundt", "Cão de Pavlov" e "caixa de Skinner" te fazem lembrar de algo?) que, sim, dá para saber qual cantada atrairá mais mulheres do que homens, que anúncios de jornal atrairão mais pretendentes e que tipo de abordagem fará um garçom de restaurante receber gorjeta maior. Richard cita em seu livro Freud, Sócrates, Aristóteles, Galton , uma série de renomados homens que tiveram seus nomes vinculados à Ciência, e, para além de citá-los , põe em prova os conhecimentos sobre tantas das temáticas estudadas com afinco por estes nobres pensadores.


Como se pode notar, Esquisitologia ( derivada do termo inglês "quirkology") não se apresenta como uma "nova corrente" psicológica, tampouco Wiseman pleiteia sobre a hegemonia dos "esquisitologistas" em matéria de Ciência. O livro, a despeito do que muitos podem pensar , está repleto de referências a outros pesquisadores que costumavam e costumam levar a sério certos temas que a maioria de nós consideraria "menores" ou "sem relevância para o desenvolvimento do conhecimento científico" - academicamente falando.

Um exemplo disto é o experimento de Jastrow, famoso psicólogo americano que nutria grande interesse pelo ilusionismo e por experiências oscuras e assustadoras. Para se ter uma idéia sobre Jastrow, no fim do século XIX, o famoso médico dedicou muitas experiências ao entendimento do que acontecia por trás do tabuleiro Ouija ( nos Estados Unidos , o tabuleiro Ouija é uma espécie de "jogo" utilizado por pessoas que desejam manter contato com entes queridos que se foram; é algo muito utilizado em sessões espíritas até hoje neste país).


Jastrow demonstrou em suas experiências com mágicos que muito do Iluminismo não tem a ver com a velocidade empreendida pelo mágico em manipular os objetos, mas sim de persuasão e percepção da platéia.


Wiseman considera-se um fã de Jastrow, definindo-se, também, como um grande entusiasta do ilusionismo, espectador constante das comédias do grupo inglês Monte Python, e, além de tudo, um cientista muito bem humorado. De acordo com Michel Shermer, da Scientific American, Wiseman pode ser considerado como o mais interessante e inovador psicólogo do mundo atual.


Você agora pode se perguntar: Por que deste alvoroço? Tudo é muito simples. Wiseman não precisa rechaçar e denegrir Freud ( Lembram do Livro negro da Psicanálise? se não , aconselho outro título: "Em defesa da Psicanálise, de Roudinesco, lá quem quiser pode saber mais sobre isto), tampouco negligenciar a influência do pensamento dos mais aclamados nomes da Ciência Moderna, ao contrário: mantem viva o experimentalismo inaugurado por Wudnt, alia-se aos estudiosos das chamadas Neurociências e , além disto, não nega a importância das descobertas freudianas, desconsiderando os ditos "fatores inconscientes".


Em Esquisitologia parece que estamos, de novo, voltando para os temas que sempre nos interessaram e que, aos poucos, fomos deixando de lado, não por declínio do interesse, mas por subestimação mesmo, onde já se viu estudar piada ser Ciência?


Olhemos lá...não esqueçamos de Freud e de sua clássica " um charuto é apenas um charuto". Pensando direitinho, Wiseman não é pioneiro, mas não podemos dizer que ele é menos interessante e inovador por isto.

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