terça-feira, junho 24, 2008

E a pesquisa em Psicanálise?


"A Empiria psicanalítica é a clínica"


(Lowenkron, 2004)


Como fazer pesquisa em Psicanálise. A questão é intrigante e instigadora de muitos textos dentro dos meandros psicanalíticos. Vejamos nós, se a Psicanálise é pura metapsicologia, o que está além do sujeito consciente, o que pressupõe um inconsciente, então, como pesquisar um dado da realidade, propor um entendimento maior sobre uma questão desafiadora a partir dos óculos freudianos?

Parece impossível tal tarefa. No entanto, o empreendimento só se torna inviável quando estamos pensando em pesquisa a partir da noção Positivista, quantitativa: Há uma questão, transformada em problema o qual o pesquisador(a) visa solucionar, ou, ao menos responder.

Respostas? Será que realmente a Psicanálise visa respostas? Será que não é mais tarefa do pesquisador psicanalítico a maiêutica socrática? Instigar dúvidas e questionamentos? Parece-me mais fiável uma pesquisa psicanalítica que objetive isto.

De acordo com Iribary (2003) a pesquisa psicanalítica, por trabalhar com a impossibilidade de previsão do inconsciente não poderia jamais exigir uma sistematização completa e exclusiva. Portanto, entende-se: a Psicanalise não visa generalizar o problema de pesquisa, não há inferência absoluta assim como como não há possibilidade de resposta correta acerca da questão proposta.

Daí a singularidade de uma pesquisa embasada pelo referencial psicanalítico: Não existem certezas, existe a interferência de inconscientes (do pesquisador e dos sujeitos), da transferência e tudo que estas suscitam e que marcarão o texto. O texto. Eis outra particularidade da pesquisa em Psicanálise: A metodologia utilizada para "apreensão do fenômeno" depende da criatividade do pesquisador; eu diria que depende muito da forma com a qual o pesquisador se relaciona com o fenômeno e com seu próprio inconsciente, permeador de todo o processo, desde a idéia inicial de se pesquisar até como escrever o texto.


Assim, cada caso clínico é um processo de descoberta e uma possibilidade de ampliação do arcabouço teórico. Deste modo, se alguém se surpreende com a frouxidão dos laços afetivos na Contemporaneidade, porquê não propor uma escuta clínica, colocar seu próprio inconsciente à disposição e escutar clinicamente como quem lê um texto?

Acho que as elocubrações e desdobramentos são mais importantes do que a resolução da questão em si - Já passo, na verdade, a acreditar que a solução de um problema de pesquisa em Psicanálise é raro, mais fácil é produzir pensamentos, desdobramentos e com isto, ampliar o campo de atuação, renovar a práxis a partir da mobilização de inconscientes envolvidos - pesquisador e sujeitos da pesquisa. De acordo com Widlocher, "a intersubjetividade diz respeito às induções recíprocas das operações de pensamento nos dois aparelhos psíquicos em comunicação".

O que podemos concluir de tudo isto? Concluímos que o trabalho de pesquisa em Psicanálise é arduo e jamais permite conclusões ou generalizações; que as inferências as quais se extraem de uma pesquisa jamais podem ser colocadas como verdades absolutas, assim fazendo estaríamos caindo no perigoso campo do dogmatismo, o que, ao invés de permitir desdobramentos posteriores, contribuiria para atravancar o caminho científico.

Fazer Pesquisa em Psicanálise, na minha opinião, é colocar o próprio inconsciente a serviço de algo que não sabemos aonde vai dar; é permitir-se desviar do caminho e construir um texto outro a partir dos significantes que são sempre deslocados e re-colocados na situação analítica.



Nenhum comentário: