domingo, junho 22, 2008

Um texto doce feito mel


" And in the end, the love you take is equal to the love you made"
Beatles



Nada mais válido do que a filosofia de Liverpool para nos dizer que, na vida, tudo que recebemos nada mais é do que um pagamento fiel daquilo que pedimos por empréstimo, estejamos nós falando de amigos, de amores. Em todas as nossas relações prevalece a questão econômica.

Por favor compreendam que a economia da qual falo aqui não corresponde ao frio câmbio de afetos ou significa relações mercantis envolvendo sentimentos. O que quero dizer é simples: Você recebe aquilo que você dá, portanto, vale mais ser sincero e receber um pagamento justo no banco da vida do que dissimular sentimentos e assustar-se com o saldo devedor, no fim das contas.

Sinceridade atrai sinceridade, porém, também atrai incompreensão por parte dos que não são acostumados a usá-la ou tê-la dentro de si. Eu nunca vi nada mais sincero do que crianças. Crianças dizem o que sentem, mesmo que magoe, dizem o que sentem e vão falando da forma que sabem sobre seus medos, tristezas e alegrias. Nunca espere que uma criança agrade por agradar ou não transpareça indiferença quando senti-la.

Crianças são assim, e o que você dá a elas é exatamente o que você vai receber. No saldo final das contas, eu saio feliz e satisfeita: dei amor, da forma que pude, dei sinceridade - sorrisos sinceros aos que me fizeram sorrir sinceramente, broncas merecidas aos que mereceram as broncas em um dado momento.

Não posso dizer que a experiência não me deixou grandes ensinamentos: aprendi que, como diria Quintana, não há pessoas mais amargas do que as que são doces por interesse, aprendi também que um sorriso no momento apropriado geralmente destrói a possibilidade de mal entendidos acontecerem. Principalmente aprendi que, na vida, deve-se estar sempre disposto a aprender com aqueles que julgamos não poder nos ensinar nada. Aprendi, sobretudo, que o pior dos ambientes pode deixar saudades.

E eu tenho certeza que sentirei saudade de todos os momentos que por vezes me pareceram insuportáveis, do cansaço depois das seis, do esconde-esconde, do corre-corre e das vozes já conhecidas, das mãozinhas cobrindo meus olhos e perguntando "Quem é?".

Eu sentirei saudades dos que riram comigo, dos que me colocaram em situações tão embaraçosas, das amigas que fiz ao invés de colegas. Eu sentirei saudades de educar, independentemente de qualquer coisa. E no olhar mais doce espero reconhecer, um dia, que fui importante, que provoquei interesse e incitei dúvidas.

E cada um vai embora comigo, dentro do meu coração. Deixo alegrias e dúvidas e levo o rosto de cada um dentro de mim, como uma prova de que é possível educar com sinceridade. E daquele lugar situado entre o Céu e o Inferno, no fim das contas, eu levo a doçura das crianças, o aprendizado eterno de que tudo nesta vida é reflexo do que você planta.

Eu apago o quadro pela última vez com a sensação de que quem aprendeu mais fui eu.


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