segunda-feira, fevereiro 07, 2011

A dor é minha só (?)


Recentemente estive me informando sobre um caso que trouxe a questão à tona: O que fazer com a dor?


Obviamente, se isto se faz questão é porque não estamos falando de dores facilmente localizáveis; estamos falando de dores as quais estão longe de terem explicações que passam por medicamentos e/ou tratamentos com pomadas.


Estamos aqui falando da dor proveniente da angústia de viver. Um dia Oscar Wilde já disse que poucos de fato vivem, sendo hábito da grande maioria apenas existir. Na minha trajetória no campo psi - como professora e como profissional, percebo que a dor de existir sem viver é o que mais tem levado as pessoas a consultórios psicológicos, os felizardos.


Se a maioria de nós apenas existe, os dados comprovam que não estamos sabendo lidar com nossa própria existência: a dor e a angústia de existir: quando já não há chama de desejo que nos faça vislumbrar uma vida para além da reles existência, ou mesmo quando há tantas chamas de desejo que já não há outra alternativa que não o incêndio. Aí está a dor.


Em eras de twiter e facebook, a dor , além de ser anunciada , vende revista e dá Ibope. Recentemente prestei atenção a um depoimento de uma dessas celebridades instantâneas sobre o suicídio de alguém próximo: Poucas horas separaram o evento trágico do suicídio e a divulgação deste na rede social Twiter.


O que se seguiu ao anúncio foram demonstrações de todos os tipos que tinham mais ou menos o mesmo objetivo: acalentar a alma da tal celebridade que anunciava em seu microblog o suicídio do noivo. Uma legião de fãs apareceu para prestar condolências e desejar força a tal beldade.


Pergunto-me sobre esta dor, esta dor divulgada, anunciada, até mesmo alardeada - cerca de 5 depois do evento, a celebridade se diz "melhorando a cada dia", superando o luto de alguém que decidira pôr fim a sua existência justamente por causa de tanto desejo, ou falta dele, ou simplesmente, por não conseguir mais suportar o passar dos dias.


Em seu "Livro da dor e do amor" , o psicanalista Juan-David Nasio poderia fazer uma bela análise da dor. Indico fortemente a leitura do mesmo. Porém, é preciso que tantas outras questões surjam desta que se tornou a principal neste post: O que fazer com a dor?


Há quem a divulgue e anuncie, posteriormente a venda - vide o caso da citada celebridade. Há quem procure um amparo, alguém para escutar essa dor. Há quem não faça nada e simplesmente vá desistindo, lenta e gradualmente da própria existência por não suportar viver sem viver.


Há quem escreva, há quem trabalhe, há quem chore. Gostaria que as pessoas realmente soubessem o que fazer com a própria dor. No fim isso sempre ajuda.

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