segunda-feira, maio 04, 2009

Veríssimo é bárbaro


" Toda as opiniões sobre o gênero humano são suspeitas porque são de gente. É impossível ser completamente objetivo sobre a própria espécie. Mesmo as opiniões mais negativas sobre o ser humano têm esta falha de origem: são de seres humanos".



Luís Fernando Veríssimo



Quem lê isto logo pode adivinhar a autoria: Veríssimo, talvez o mais sagaz dos Veríssimos. O mundo é Bárbaro ( Editora Objetiva, 2008) consiste em uma compêndio de crônicas escritas pelo já célebre escritor gaúcho que continua muito, muito bem das pernas.

Uma reunião de idéias, frases de efeito - mas não só isso - e muita, mas muita opinião é um bom começo para iniciar um comentário sobre este livro. Inicialmente confessarei: hesitei em comprá-lo, achei que dentre tantos outros nomes, uma outra leitura seria mais agradável, afinal, pensei que se trataria de críticas ferrenhas ao capitalismo, consumismo, afinal, coisas das quais não podemos - até que alguém prove o contrário - nos livrar. É isto, confessei.


Porém, qual não foi minha surpresa ao perceber que Veríssimo continua o mesmo de As comédias da vida privada, continua o mesmíssimo. Sim, a veia cômica, o humor e a ironia, além, claro, do amor pelo Internacional de Porto Alegre continuam aparecendo em seus textos de modo que nem devem ser enquadradas como "estilo" de escrita; acho que, na verdade, tudo que surge para adequar alguém à algo seria avesso a qualquer proposta de Veríssimo.


Digo isto porque suas obras me parecem mais uma mistura de humor, sagacidade de brilhantismo e uma reunião destes elementos só poderia dar em algo como Veríssimo, impossível de definir e encaixotar em um estilo, um estilo literário, alguns defenderiam.


Em O Mundo é Bárbaro, de maneira simples o autor parece situar-nos nesta galáxia, neste planeta avariado, nesta espécie homo sapiens imbecilis. Veríssimo não nos apoia em nada, não nos desresponsabiliza por nada, nem nós , nem os gaúchos, nem mesmo Obama sai incólume da severa crítica feita com jeito de gracejo.


Esta parece ser a receita do sucesso do autor que ganha a vida, parece, fazendo o que mais sabe e gosta de fazer, a não ser torcer pelo Internacional. O livro contém exatos 69 textos que versam sobre assuntos relacionados a nossa maneira um tanto quanto estúpida de habitar o planeta, os países, enfim, o livro trata das vicissitudes humanas sempre tão idiotas quando se tenta generalizá-las.


O engraçado de tudo isto? O engraçado é que Veríssimo, mesmo quando fala de assuntos sérios, tais como ataques terroristas, o auge econômico dos países asiáticos, mesmo quando fala das misérias do Brasil, consegue dar um tom de graça tão forte, mas tão forte, que não raramente o leitor se pegará rindo da própria des-graça.


Na verdade, acho que o que Veríssimo faz é justamente isso: dá-nos algo para rir, nem que seja nossa própria miséria, enxergá-la no espelho, repleta por uma fina ponta de humor e ironia, e cá estamos nós, com a boca cheia de dentes, gargalhando tantas vezes em cada folhear de página.
E eu, hein, que achava que tinha errado de livro, acabei acertando na hora de ir ao caixa. Sorte minha. Recomendo fortemente.

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