
O que será que toca um poeta e um cientista de tal maneira que os discursos de ambos acabem por se parecer, por realçar fatos que guardam certa semelhança entre si? Acertou quem apostou em “tragédia”. Não é preciso – há que se dizer – ser nem oficial de versos ou bastião do cientificismo para chegar à conclusão de que tragédias tornam os corações mais amolecidos, menos rígidos.
As primeira e segunda Guerras mundiais foram exemplos dessas tragédias que acabaram por unir corações e mentes em torno de uma só situação: a tragédia de vidas abreviadas por conta do egoísmo humano e do ufanismo quase imoral que dizia saber das coisas da vida e conhecer o bem de uma nação.
O poeta , da sua maneira, deixa suas angústias falarem e tomarem conta do papel; em forma de versos vão aparecendo palavras tristonhas que se ligam umas as outras para formar uma estrofe que acaba sempre muito mais bonita do que indicaria seu conteúdo:
“ Depois da guerra vão nascer lírios nas pedras, grandes lírios cor de sangue, belas rosas desmaiadas. Depois da guerra vai haver fertilidade, vai haver natalidade, vai haver felicidade [...] Depois da guerra não haverá mais tristeza: todo o mundo se abraçando num geral desarmamento”.
Vinícius de Moraes em “Para uma menina com uma flor (maio de 1944)
“ Uma flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela. [...]. Quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito que tínhamos das riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura que antes”.
Sigmund Freud, em “Sobre a Transitoriedade” (novembro de 1915)
É, há quem diga que Ciência e arte não se bicam; eu sou da opinião de que se complementam, se irmanam, se entendem. Caso não o fosse, Freud não falaria tão bem de flores efêmeras e Vinícius não entenderia de armistícios. O melhor que aprendemos nisso tudo é que o homem, seja seu ofício versar ou pesquisar, não perde a esperança, nem em tempos de guerra.
Ilustração: Guernica, Pablo Picasso
Um comentário:
Mesmo com motivações diferentes é a criatividade que faz que cientistas e escritores (os bons)se pareçam tanto. Tem um estudioso italiano Domenico Di Masi que estuda justamente como se dá o processo criativo tanto em artistas no geral como em cientistas.
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