quarta-feira, setembro 16, 2009

Ciência e Poesia em tempos de guerra



O que será que toca um poeta e um cientista de tal maneira que os discursos de ambos acabem por se parecer, por realçar fatos que guardam certa semelhança entre si? Acertou quem apostou em “tragédia”. Não é preciso – há que se dizer – ser nem oficial de versos ou bastião do cientificismo para chegar à conclusão de que tragédias tornam os corações mais amolecidos, menos rígidos.
As primeira e segunda Guerras mundiais foram exemplos dessas tragédias que acabaram por unir corações e mentes em torno de uma só situação: a tragédia de vidas abreviadas por conta do egoísmo humano e do ufanismo quase imoral que dizia saber das coisas da vida e conhecer o bem de uma nação.
O poeta , da sua maneira, deixa suas angústias falarem e tomarem conta do papel; em forma de versos vão aparecendo palavras tristonhas que se ligam umas as outras para formar uma estrofe que acaba sempre muito mais bonita do que indicaria seu conteúdo:
Depois da guerra vão nascer lírios nas pedras, grandes lírios cor de sangue, belas rosas desmaiadas. Depois da guerra vai haver fertilidade, vai haver natalidade, vai haver felicidade [...] Depois da guerra não haverá mais tristeza: todo o mundo se abraçando num geral desarmamento”.
Vinícius de Moraes em “Para uma menina com uma flor (maio de 1944)
Uma flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela. [...]. Quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito que tínhamos das riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura que antes”.
Sigmund Freud, em “Sobre a Transitoriedade” (novembro de 1915)

É, há quem diga que Ciência e arte não se bicam; eu sou da opinião de que se complementam, se irmanam, se entendem. Caso não o fosse, Freud não falaria tão bem de flores efêmeras e Vinícius não entenderia de armistícios. O melhor que aprendemos nisso tudo é que o homem, seja seu ofício versar ou pesquisar, não perde a esperança, nem em tempos de guerra.



Ilustração: Guernica, Pablo Picasso

Um comentário:

Estêvão dos Anjos disse...

Mesmo com motivações diferentes é a criatividade que faz que cientistas e escritores (os bons)se pareçam tanto. Tem um estudioso italiano Domenico Di Masi que estuda justamente como se dá o processo criativo tanto em artistas no geral como em cientistas.